Batismo e o Deus de Aliança
8 de abril de 2023
“A seguir, foi ele batizado, e todos os seus”
Atos 16.33b
Uma aliança é como um contrato, acordo ou pacto feito para unir ambas as partes numa relação solene, e requer obrigações e compromissos dos que nela estão envolvidos, sob pena de sérias consequências em caso de descumprimento de tais deveres.
Desde o início, o Senhor se revelou como um Deus de aliança – no singular –, pois nas várias alianças firmadas, o propósito de Deus era um só: ter um povo que O servisse com plena fidelidade e amor. E Deus é sempre fiel à Sua parte na aliança. Já o ser humano, desde o princípio, descumpre sua parte. Por exemplo, no pacto feito com Adão no Éden, Deus lhe deu tudo, e a única regra que coube ao homem (não comer do fruto proibido) foi quebrada; e a terrível consequência do pecado passou a toda humanidade. Fato seguinte a esse deslize humano foi Deus conceder uma nova aliança, a Aliança da Graça, feita na promessa de um Salvador (Gn 3.15).
A história dos fracassos humanos está marcada pelas atualizações da aliança que Deus, por graça, decidiu fazer, preservando Sua criação, e, dentre ela, a humanidade. Podemos relembrar a aliança feita com Noé após o dilúvio (Gn 9), a aliança feita com Abraão para assumir uma nova terra e iniciar um novo povo (Gn 12) e a aliança feita com Israel no Monte Sinai, para ser propriedade exclusiva de Deus na terra e apresenta-Lo às demais nações. Em cada ocasião, a parte humana era a obediência fiel, e, em cada uma delas, o homem fracassou. Podemos dizer que justificação, perdão, regeneração, adoção e santificação, entre outros atos graciosos de Deus, são instrumentos da Sua misericórdia, a fim de possibilitar continuidade da aliança, até que ela, de fato, alcançasse sua única condição perfeita para acontecer: ser cumprida com fidelidade perfeita por um homem perfeito, e em condições de alcançar a recompensa perfeita, que é estar, para sempre, junto ao Autor da Aliança.
É por isso que, somente em Jesus Cristo, a aliança é verdadeiramente cumprida e alcança êxito, pois sua perfeita obediência e seu perfeito sacrifício foram aceitos por Deus. Por meio dEle, todo que nEle crê consegue se reaproximar de Deus e entrar em aliança com Ele.
Assim como num casamento, as alianças são símbolos do acordo feito. Na aliança com Deus, os símbolos também estão presentes para identificar os aliançados. Na antiguidade, o povo de Deus, mesmo imperfeito, podia comparecer perante Ele fazendo uso do sangue de um cordeiro, ato que foi definitivamente substituído pelo sangue de Jesus Cristo vertido na cruz do Calvário (Jo 1.29 e Hb 9.23-28). É somente pelo do sangue de Cristo que os crentes podem comparecer perante o Deus Santo.
Os homens integrantes do povo de Deus tinham uma marca de pertencimento, que era a circuncisão (Gn 17.9-14). Os que pertenciam ao povo da aliança eram identificados com essa marca, feita nas crianças já a partir do oitavo dia de vida. Essa marca foi chamada de “selo da justiça pela fé” (Rm 4.11).
É Deus o Autor da aliança e Quem estabeleceu cada instrumento e símbolo dela, assim como a atualizou ao longo da história, fazendo com que o sangue dos cordeiros fosse concluído no sangue de Cristo. Foi Ele quem estabeleceu que a marca de pertencimento ao povo da aliança passasse da circuncisão para o batismo. “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.11-12).
O propósito de Deus não mudou; Ele faz aliança com um povo que Lhe pertence. E assim como os pais judeus inseriam suas crianças na antiga aliança pela circuncisão, sem exigir fé nenhuma delas, mas ensinando-as a pertencer a Deus e ao seu povo, cremos que, neste tempo neotestamentário, onde Jesus Cristo substituiu a celebração da Páscoa e a morte de cordeiros, pela Ceia com pão e vinho/suco de uva, os pais crentes, aliançados com Deus, devem inserir seus filhos na comunidade dos santos por meio do batismo infantil, assim como orar com eles, ler as Escrituras e ensiná-los a amar a Deus e ao Seu povo, até que venham publicamente professar sua fé em Deus.
Vale destacar que, assim como muitos judeus circuncidados foram rejeitados por Deus, por não assumirem os compromissos da aliança, o batismo insere o indivíduo entre o povo de Deus na terra, mas não assegura a sua entrada no céu. Por isso, o sacramento do batismo pode ser ministrado às crianças filhas de pais crentes (1Co 7.14). Na Ceia, porém, as crianças ainda não devem ser inseridas, pois, quanto a essa, a recomendação bíblica é que haja discernimento de quem participa acerca do seu genuíno e pessoal compromisso com Cristo, o Salvador (1Co 11.28-29).
Reverendo Edilson Martins
Pastor auxiliar na Igreja Presbiteriana Águas Vivas