Tenha prazer em seguir o Mestre e alegrai-vos

24 de dezembro de 2022

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“Alegrai-vos sempre no Senhor”

Filipenses 4: 4

De que mais se queixa o homem? Em que mais ele se alegra? Vemos constantemente que o homem se alegra nas festas comemorativas, ou nas muitas outras celebrações que lhes são permitidas. São muitas as possibilidades nas quais as alegrias tomam parte na existência humana, seja no dia em que o sol brilha ou quando o ser se envereda por conhecer lugares outros que o trazem satisfação. Até porque, se for para ir a um lugar que não proporcione algum tipo de prazer, melhor não ir. Vez ou outra o homem se alegra simplesmente por estar de bem com a vida ou próximo a pessoas queridas. Já outros entendem que se isolar é buscar uma alegria onde a maioria não consegue encontrar; vá entender isso?

Vejo nas diversidades das muitas alegrias as muitas carências humanas. Outras carências, no entanto, podem ser curadas de muitas formas que aqui não é o nosso caso tratar. Até porque, ajudar uma pessoa requer prévio conhecimento das suas carências e necessidades. Em seus muitos ajuntamentos a que o homem se possibilita vemos muitas possibilidades para que ele possa se alegrar. Porém, nos rituais e grandes festivais, o que mais vemos é o ser indo de encontro à bebida forte – aqui pode se imaginar diversas substâncias. Mas o que o leva a isso, talvez, seja o “quê” da questão. Seus resultados, via de regra, não são dos melhores, uma vez que a bebida forte promove e provoca resultados não tão satisfatórios quanto o que dela se espera. Senão vejamos.

A bebida forte pode fazer o mais sábio dos homens se transformar no bobo da corte. Em meio às comunidades carentes ela pode levar o desconhecido a se destacar diante da sociedade comum. Ela conduz o usuário a se perder em toda a sua sabedoria a ponto de se tornar louco em meio ao conhecimento. Ela faz com que o tolo se transforme no mais sábio entre os loucos. E mais, permite ao fraco se transformar em forte sem ao menos ter estrutura física que corrobore tal sensação. Diante disso, me pergunto qual o grande prazer da bebida forte, se numa visão mais ampla, seguir esse caminho é a certeza de que o final não será nada bom? Creio que os usuários nem ao menos se dão ao luxo de questionar seus efeitos. São por ela, em seu sabor, prazer, etc., levados a se alegrar, simplesmente porque nelas julgam se satisfazer, comemorar suas conquistas, e por aí vai. Já ouvi, e também li, que “a bebida dá forças para encarar o dia” (James Cameron – cineasta). Penso seriamente se o homem, de fato, precisa de algo externo que lhe dê a força necessária para encarar o dia. Ademais, o que obter de bom de um produto viciante e que pode me subjugar? Que benefício pode ter algo que me sevicie?

Nessa explosão de pensamentos sobre o prazer, quero explorar uma forma de regozijo que encontramos quando decidimos saciar nossa sede espiritual de uma forma contrária àquela promovida pela bebida forte: a de seguir o Mestre e de se alegrar nEle. E nisso, gostaria de levar você a pensar um pouco na sua existência. Tudo que fazemos, tudo o que somos e tudo que pensamos, provavelmente, vem do conflito existencial que todo homem tem. Disso preciso dizer que, se toda vez que o homem se visse em um conflito que precisa resolver tirasse um pouco de tempo para pensar em sua espiritualidade e fugisse da resistência comum de não aceitar o conforto espiritual ele encontraria um bom remédio não só para suprir por completo seu bem-estar emocional como, de sobra, encontraria tempo para pensar na eternidade. Quando vejo o homem comum, que segue a vida sem pensar em Deus, posso dizer com propriedade que ele não tem como imaginar o que é viver sem Deus.

A vida é deveras breve. E passar por ela longe de Deus traz naturalmente um conflito existencial de um vazio que nada, muito menos uma bebida forte, pode suprir, uma vez que a dose maior e mais forte é sempre o próximo desejo que se segue. E tudo se sucede numa perspectiva de encontrar a resposta que preencha esse vazio. Tudo que fazemos no período de vida dado a todo homem, em que sua extensão, de boa mente, se estende em média aos 70 anos, passa rápido demais, pois mal se percebe e esse tempo já se foi. E se nesse curto espaço de tempo ele vive longe de Deus, não terá nunca como propósito e objetivo principal se remeter a um ideal de vida no qual possa imaginar o tamanho da alegria que estar com o Criador pode proporcionar.

Pode-se ganhar o mundo, obter as mais variadas conquistas, se satisfazer de toda alegria possível e, mesmo assim, toda conquista, por mais significado que tenha, será passageira. Toda grande vitória, por maior que seja, por mais que possamos encontrar razão para que melhor possamos entender suas nuances, se acontecer nesse plano, vai se perder, porque aqui vai ficar. A terra vai consumir tudo, regra geral: o que é do pó, vai voltar ao pó. Mesmo nessa certeza, seguimos por almejar as coisas, e, com isso, a vida nos leva ou vai levando. Ainda mais, de certo é que, em geral, a vida tira o que muito desejamos conseguir, pois que a conquista de hoje, amanhã é pretérito. Tudo passa. O que então podemos sacar como experiencia pessoal desse pormenor de alegrias passageiras?

Um paradoxo sem limites de tamanho se sobrepõe à alegria dessa vida quando nos questionamos: como vai meu modo de vida, meu jeito de ser, ou no que devo esperar? Existe os modos operandi do maior Mestre de todos os tempos, Jesus: “tereis aflições”. No meu jeito simples de ver o mundo, sei, e acredito que você que faz essa leitura também o sabe, que não importa a bebida forte, ou o tanto de prazer que as coisas nos proporcionem. O que passaremos enquanto vivos, em geral, são tristezas, angústias, dores e desprezo. Entre tantos percalços pelos quais passa o homem, qual deles é o pior? Creio que nem o que, na maioria das vezes, nos leva nos aproximarmos de Deus certamente é bom, considerando que muitos somente se aproximam do criador justamente por causa destes motivos ruins citados e outros mais.

Mesmo assim, o bom da vida é viver a alegria de poder dizer “tudo que alcancei vem de Deus. Nele tenho um Pai que cuida de mim, tenho um Deus que me ama. Sou filho do dono da eternidade e parte integrante dos seus propósitos para esse mundo”. Se esse pensamento não fosse bom, não teríamos seguido o Mestre. Talvez não tenhamos que aceitar todas as pessoas que giram em torno do nosso convívio. Mesmo que sejam difíceis de se conviver e aceitar, são elas parte das alegrias e dores da vida. De fato, é muito mais reconfortante poder dizer que existe no céu um Deus que cuida dos seus, do que viver por meramente existir. No mais, independente do momento, sejam eles frágeis ou de realizações, a maior realidade que essa vida apresenta a cada ser vivente são as aflições que todos carregam. E o fim de todos é um só, vamos voltar ao pó.

Se é isso por si só, talvez justifique o aproveitar ao máximo o momento de festa, o lapso de alegria onde você somente se lembra de estar presente, mas faça isso sem exageros. Não digo que não devemos viver esses momentos, não é isso. Mas acredito que eles não devem acontecer simplesmente para constar, mas que se coloque nesses um objetivo maior, visto que é bom celebrar a vida. Veja, motivos não faltam para se alegrar com a vida do que nasce, até mesmo daquele que partiu de forma singular e deixou significado no seu legado. Mas viver com a espiritualidade em paz é de um conforto sem precedentes na rotina comum do homem.

Como é bom poder celebrar, “seja o Natal ou o Ano Novo”, mas que essas celebrações não sejam um mero festejar. Celebrar é muito mais que um momento, muito mais do que um simples se deleitar na bebida forte ou no prazer de segundos. Celebrar é viver e se virar para viver longe de errar. E isso, confesso, é um desafio diário que todos precisamos enfrentar, não falo simplesmente do que apenas você considera um erro clássico, mas para quem acredita em Deus, errar é: “Pergunta 14. Breve catecismo de Westminster. Qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão”, tudo aquilo que entra em conformidade com a lei de Deus nos leva a errar. E vencer o erro é igualmente difícil a todo ser.

Porém, vejo com naturalidade ser muito possível, na passagem desse tempo de fim de ano, mirarmos nos exemplos que inspiram e nos impulsionam, a fim de que, nos próximos, e que venham, sejamos capazes de superar melhor as dificuldades que naturalmente nos serão apresentadas. Veja que Elias venceu a morte porque os erros não o corromperam nessa vida. Enoque venceu a morte porque não se dobrou aos erros costumeiros do seu tempo. A morte não foi capaz de deter a Cristo pela capacidade que teve de vencer o erro e manter o foco na verdade. Difícil para eles? Sim, sem sombra de dúvidas. E creio ser dificílimo a nós. Porém, essa vitória é uma realidade possível, visto que eles venceram.

Mesmo em meios às dificuldades, se alegrar é muito mais fácil. Temos sim muito mais momentos de dores do que momentos para nos alegrarmos. muito mais pesares e angústias do que momentos de regozijo. No entanto, que nos momentos de celebrar, possamos todos juntos dizer que em Cristo podemos festejar; até porque, “a alegria do Senhor é a nossa força”. Alegre-se, porque por maiores que sejam as dores pelas quais vamos passar, ou momentos de sofrimento que tenhamos que presenciar, talvez perdas irreparáveis que teremos que enfrentar, tudo é passageiro. Sim, mesmo que sejam as angústias, as dores da vida, as dores do corpo e as dores da alma, todas devem trazer aprendizados e nos tornar mais fortes.

As dores do corpo mostram o quanto já vivemos e o quanto precisamos para continuarmos vivos. As dores da alma existem para tornar o espírito maior, mais forte e resistente às intempéries, e também mais grato pela recompensa do criador na dádiva de viver a vida. Lembre-se sempre: é o Pai que nos diz que em meio a toda angústia de viver, “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Filipenses 4:4). E deve ser assim, porque tudo pelo qual o homem passa nessa vida são vaidades de momentos que se extinguem como neblina. Portanto como umas das prioridades nesta vida, cuide da sua mente para que você não se deixe levar a um caminho sem volta, onde a maldade que vicia degrada o ser, quem cuida da mente, uma vez passadas as consequências ruins dos desvios existenciais, saberão ao menos contar como foi sua história.

Já perto de finalizar, preciso ainda te dizer que, nesse tempo de fim e início de ano, o mundo da era cristã leva todos a se lembrarem do Nascimento daquele que veio para nos redimir; que veio para nos dar esperança, gerar expectativas e nos mostrar de forma clara e contundente que todo homem é infinito espiritualmente e que esse tempo aqui na terra é passageiro. Além do mais, se não nos alegrarmos agora, talvez jamais teremos, nessa vida, outra grande oportunidade para tal. Talvez seja o dia de hoje difícil para você pensar dessa forma. Mas deixo alguns motivos para você meditar, e se for possível, viver a alegria do hoje.

De conselho o que fica é: tenha cuidado com todos os excessos que a vida oferece, nenhum extremo se mostrou bom no decorrer da existência humana; se puder ser uma pessoa ponderada que revela em si o melhor da existência humana, por certo você vai demonstrar muito mais prudência do que um extremista radical. Tome cuidado, zele pelo dom precioso que recebeu de poder estar vivo. Pela fortuna da sabedoria que não tem preço e que se ganha simplesmente por viver.

Alegre-se, porque no dia de hoje a lua completou seu ciclo de rotação, o sol brilhou e a natureza, em toda sua glória e beleza, de forma singular, transmite a grandeza do Criador. “outra vez digo” se podes, mesmo que por um momento no qual tens a oportunidade, aproveite e alegre-se. E claro, pelo amor que um dia lhe foi dedicado, se derramou numa cruz e que não tem como ser retribuído, siga o Mestre. Quem ama cuida, então cuide de você e dos seus. E em todas as oportunidades possíveis, saboreie com prazer, junto as melhores companhias, cada minuto de felicidade, essa é a melhor maneira de se alegrar com os que se alegram.

Que Deus nos abençoe!

Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegria.

Reverendo Arlei C. Gonçalves

Pastor titular da Igreja Presbiteriana Águas Vivas

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