Jesus, o bom pastor, é o real sentido da Páscoa para o povo de hoje
14 de abril de 2022
Hoje, vivemos num tempo em que podemos desfrutar da alegria de saber que Cristo ressuscitou; a Igreja de Jesus celebra a Páscoa com grande júbilo, porque Ele vive. Mas, depois de 2000 anos, não é tão simples assim usar de criatividade para escrever sobre essa data tão importante. Afinal, essa festa é celebrada há milênios, e, de lá para cá, muito já dissemos e ouvimos a respeito de seus significados. Sei, porém, que o que se deve dizer está relacionado ao seu valor de antes e de agora, visto se tratar da maior festa do cristianismo. Por isso, continuar a falar sobre ela sempre será necessário, para que se mantenha sua celebração e real importância sempre presentes na mente e no coração, essencialmente, do povo de Deus.
Pois bem, o que a Páscoa significa? Certamente, sua celebração nada tem a ver com ovos de chocolate e a ilusão fictícia de que coelhos conseguem por ovos. A Páscoa não me leva a pensar em nada do tipo que a vida secular e comercial quer impor a todo custo à mente das pessoas. A verdade é que nem dou muita confiança para esse tipo de conversa. Até porque, minhas convicções passam longe desse tipo de pensamento. E isso não quer dizer que sou contra os coelhos e muito menos contra os “ovos” de chocolate ao leite – essa mistura, por certo, tem um sabor especial. O que desejo afirmar é que essas coisas realmente em nada nos remetem ao verdadeiro sentido da Páscoa. E acredito que, realmente, o que elas fazem é tumultuar e desviar a mente do homem do seu significado real.
Você pode até escolher se abster dessas coisas, se for o caso, mas não penso que essa seja a melhor resposta cristã. Creio que, para que se coloque à altura de se contrapor a tudo isso, o melhor que se tem a fazer é anunciar a verdade, de preferência com o delicioso sabor do chocolate ao leite. Até porque, também penso que o cristão bem alimentado consegue mais facilmente preencher a própria mente e coração com as verdades eternas das Escrituras.
Ao pensar em Páscoa, devemos trazer à memória o seus significados presente e passado. Em relação ao passado, a Páscoa nos remete à ideia de livramento e de vida. Isso porque foi por ocasião da celebração da primeira Páscoa que o povo de Israel ficou livre do anjo da morte que desfilou pelo Egito no fim do exílio e ceifou os primogênitos dos incrédulos, deixando viver somente os filhos dos crédulos (Êx 12. 23, 29 -31). Ademais, o sangue do cordeiro pascal colocado como símbolo sobre as portas não só impediu que os crentes fossem castigados como também abriu as portas para que o povo fosse liberto e pudesse seguir em direção à terra santa.
Desse modo, a Páscoa nos liberta da opressão e da morte eternas, e isso somente foi possível pelo sacrifício de sangue. Foi por causa do sangue de uma vítima inocente, o cordeiro pascal, e por causa da mão forte de um Deus que faz tudo como lhe apraz, colocando os inimigos debaixo dos seus pés e livrando o seu povo de um jugo maligno, que hoje temos a esperança em Cristo de viver em novidade de vida.
Em Atos dos apóstolos, Pedro proclama ao povo de Israel o verdadeiro cordeiro pascal, ao dizer: “toda a casa de Israel precisa saber que este Jesus, que vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo” (At 2, 36 – 41). O povo presente que ouviu esse sermão lhe pergunta: “O que devemos fazer para sermos salvos?”, e Pedro responde: “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”. Por isso, a Páscoa nos leva também ao arrependimento, para que possamos andar em comunhão com o Pai.
Em sua primeira carta, Pedro nos lembra de que Cristo padeceu por nós e levou sobre si as nossas dores, mazelas e pecados, quando seu corpo, como o do cordeiro pascal, esteve sobre a cruz e, ali, Ele se entregou por nós pecadores (1Pd 2, 20 – 25). E graças à morte e ressurreição de Jesus, temos vida, temos esperança de vida e somos livres da morte. Melhor do que isso, “éramos como ovelhas desgarradas, mas agora retornamos ao Pastor e guarda das nossas almas.” Portanto, seja dada a devida glória a Deus, porque seu filho nos resgatou das trevas para o reino do filho seu amor. Cristo é o nosso cordeiro pascal, Ele se doou por nós.
Em João 10. 1 – 10, vemos que o evangelista apresenta Jesus como a porta das ovelhas: “Quem entrar por mim será salvo; e encontrará pastagem.” Ao entramos por uma porta, encontramos diversas possibilidades, visto que seu simbolismo em muito se destaca. Entramos por uma porta, por exemplo, para proteção, segurança e abrigo. Jesus é a proteção do crente, a segurança da vida abundante e o abrigo no deserto. Para entendimento dessa analogia, cabe lembrar que os pastores de Israel reuniam suas ovelhas, durante a noite, num único aprisco (curral), e um dos pastores ficava de vigia à porta, enquanto outros descansavam. Pela manhã, cada pastor se apresentava, ou para troca de turno ou para levar o rebanho à pastagem, e o que guardava a porta só permitia que o outro entrasse se o reconhecesse. Então, as ovelhas, sempre famintas, logo que viam a presença do pastor, ao reconhecerem seus passos e sua voz, se levantavam, ávidas por alimento, proteção e segurança.
Jesus afirma que Ele é a porta. É Ele quem decide se “pastores” devem ou não ter acesso às ovelhas. É por isso que muitos andam longe do rebanho, pois não recebem autorização para cuidar das ovelhas do Senhor. Estes não trazem proteção, não oferecem segurança, não são abrigos no deserto. Para cuidar das ovelhas, são permitidos apenas os que possuem os mesmos sentimentos de Cristo pelo seu rebanho e que estão dispostos a dar a vida pelas ovelhas como Cristo ensinou. “De fora ficam os cães, os feiticeiros, os idólatras, os mentirosos, etc.”. Estes são impedidos de entrar, visto que se colocam do lado da morte. São chefes, não pastores, são religiosos, não pastores, são políticos de ocasião e de boa oratória, mas sem nenhum compromisso com as verdades do reino eterno.
Então, igreja, assim como as ovelhas reconhecem a caminhada e a voz de seu pastor, todos somos convidados a seguir a Cristo, pois Ele é o Bom Pastor que cuida das ovelhas. “Quem ama cuida”. Jesus é o evangelho vivo de Deus, que se revela em atitude de compaixão para com suas ovelhas. Jesus é a porta. Todo aquele que entrar por essa porta será salvo, visto que Jesus veio a esse mundo para que “todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
É pelos do passado e por todos do presente que hoje comemoramos a Páscoa. Nessa data, nossas almas vivem em júbilos de gratidão e alegrias. O seu valor passado é um desafio diário à busca pela santidade, haja vista que fomos libertos da escravidão no Egito, do pecado e do castigo que todos merecíamos. O seu valor presente coloca em cada coração uma esperança sem medida, pois sabemos que, quando nos depararmos com a morte, ela não vai colocar um fim ruim na nossa história, mas apenas o começo de uma jornada triunfal que cada fiel terá que obedecer ao ouvir a voz do Bom Pastor.
Portanto, celebremos a Páscoa sim, e sejamos festivos também, visto que essa festa traz ao coração grande contentamento. Todavia, esteja ciente de que os chamativos comercias alusivos a essa data – a mesa farta de almoços especiais, “ovos”, “peixes” e as demais comidas pascais, entre outras coisas do tipo –, podem até ocupar algum espaço por tradições antigas, mas você jamais deve permitir que qualquer outro costume vazio em sentidos substitua a verdadeira mensagem que, para mim, é a principal festa da nossa fé, pois Jesus Cristo ressuscitou. ALELUIA!
Reverendo Arlei Chaves Gonçalves
Pastor titular da Igreja Presbiteriana Águas Vivas (IPAV)