Gente proibida de ler a Bíblia e gente que não quer ler a Bíblia

27 de fevereiro de 2022

Gente proibida de ler a Bíblia e gente que não quer ler a Bíblia

Para dar um freio no paganismo que adentrava suas portas, nos primeiros séculos de sua história, a Igreja Católica resolveu proibir aos leigos a leitura da Bíblia (Concílio de Tolosa, 1229). Isso aconteceu também porque a maioria das heresias derivava de uma interpretação bíblica errada. Dessa forma, em vez de ensinar a Bíblia aos novos convertidos, o clero achou que a proibição de sua leitura seria algo mais cômodo e resolveria todos os problemas.

Mas observe que, mesmo tendo proibido a leitura, pelo medo de novas heresias, o clero romano não teve o cuidado de pôr para fora da Igreja tudo aquilo que fosse contrário à Palavra. Fora que muitos bispos tinham ideias heréticas. Portanto, de qualquer maneira as heresias continuavam aparecendo, se não por causa dos leigos, por causa dos líderes eclesiásticos.

Sabemos, porém, que a Reforma Protestante do séc. XVI passou a incentivar a leitura da Bíblia, contrariamente ao que foi determinado pelo Catolicismo. Resultado: a Igreja Católica resolveu permitir a leitura da Bíblia aos leigos, mas com as seguintes observações: 1º) A versão a ser lida teria de ser aprovada pelo clero romano; 2º) Os leigos não poderiam interpretar os textos bíblicos por conta própria. Assim, qualquer dúvida deveria ser tirada com os sacerdotes e bispos; e 3º) Os leigos só poderiam aceitar a interpretação feita pelo clero romano.

O que a Bíblia tem a dizer sobre isso? Simplesmente que o crente tem obrigação de meditar na Bíblia e estudá-la (Js 1.8; Sl 1.1, 2; Mt 22.29; Jo 5.39 e 2 Tm 3.16, 17). E, quanto a esse trecho de Timóteo, pergunto: de que adianta a Bíblia ser útil para o nosso ensino, repreensão, correção e educação, se não a estudamos?

Além disso, qualquer interpretação bíblica, dada pelo clero romano ou por qualquer outra instituição, que não esteja sendo fiel ao verdadeiro ensino bíblico deve ser rejeitada. Veja o texto de Mc 7.5-13, onde Jesus condena doutrinas meramente humanas que acabam negligenciando aquilo que diz a Palavra de Deus.

O pior nisso tudo é saber que, mesmo tendo a liberdade hoje para ler a Bíblia e estudá-la, e amparados por uma boa interpretação, muita gente – e gente crente, hein? – não se interessa por isso. Deveríamos, pelo menos, dar mais valor à nossa escola dominical, para fazermos, juntos, o que não temos feito sozinhos.

Que Deus nos abençoe.

                Presbítero Kleber Cavalcante

Teólogo, professor na Escolha Bíblica Dominical da Igreja Presbiteriana Águas Vivas (IPAV)

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