O Testamento

22 de fevereiro de 2022

O Testamento

Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados.”.

Romanos 8.17

            Outro dia, ouvi de um palestrante uma história sobre uma das visitas do reverendo Charles H. Spourgeon a um hospital. Num dos quartos, ele encontrou uma senhora humilde, sozinha e em estado terminal, meio que aguardando seu fim sem muitos cuidados. Ele também notou que, na cabeceira ao lado dela, havia um quadro com um certificado, e, após umas breves palavras e uma oração, ele perguntou se ela sabia sobre aquilo. Ela respondeu que não sabia ler e que um homem de terno lhe dera aquele papel há alguns anos, logo após a morte do seu patrão, para quem ela tinha trabalhado por longos anos como empregada doméstica. O pastor então lhe alertou que aquele certificado se tratava de um testamento, onde seu falecido empregador lhe deixava todos os bens como herança.

            Curiosamente, muitos de nós vivemos como aquela senhora que, embora sendo rica, estava padecendo sozinha num leito de hospital com poucos cuidados e sem a noção de que poderia ter vivido de forma mais regalada e com melhor assistência em seu leito. Que embora tenha à cabeceira um certificado que lhe garante ser uma pessoa de muitas posses, vive na escassez, como que vegetando num leito de hospital.

            As Escrituras são o nosso certificado à cabeceira. Nelas podemos ter a certeza de que somos herdeiros daquele que é dono de todas as coisas. Ele nos deixou preceitos para que vivêssemos abundantemente neste mundo, nos deixou a sua paz, que é diferente daquela que o mundo dá (João 14.27), e, principalmente, nos deixou a certeza de que nossa herança nos céus é uma realidade. O problema é que, assim como aquela senhora, muitos não leem o testamento, seja por analfabetismo ou, pior, por falta de vontade mesmo, e por isso, deixam de viver a plenitude daquilo que o nosso Senhor nos deixou.

Mas o Testamento de Cristo não somente informa a mudança do estado de miséria para uma vida abundante, ele informa também a mudança de nossa identidade, pois, antes pecadores, agora: “… porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus…” (1Pedro 2.9a). Ele não é somente o atestado do que temos e somos em Cristo, mas, como numa via de mão dupla, o testamento nos certifica de que somos posse de alguém e certifica o que esse alguém é para nós.

            Longe de usarmos o Testamento de Deus para vivermos aqui neste mundo no estilo da Teologia da Prosperidade, vivamos plenamente tudo aquilo que a palavra de Deus diz que temos e tudo aquilo que ela diz que somos, seja nos sofrimentos ou na abundância, seja na certeza da vida glorificada do porvir.

Presbítero e seminarista Ricardo de Souza Gaúna

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