Neste domingo, Dia do Senhor, lembramos a Reforma Protestante
31 de outubro de 2021
Por uma decretal recente, fora prometida pelo papa certa indulgência a todos os que subissem de joelhos a ‘escada de Pilatos’, que se diz ter sido descida por nosso Salvador ao sair do tribunal romano, e miraculosamente transportada de Jerusalém para Roma. Lutero estava certo dia subindo devotamente esses degraus, quando de súbito uma voz semelhante a trovão pareceu dizer-lhe: ‘O justo viverá da fé’. Romanos 1:17. Ergueu-se de um salto e saiu apressadamente do lugar, envergonhado e horrorizado. Esse texto nunca perdeu a força sobre sua alma. Desde aquele tempo, viu mais claramente do que nunca dantes a falácia de se confiar nas obras humanas para a salvação, e a necessidade de fé constante nos méritos de Cristo. Tinham-se-lhe abertos os olhos, e nunca mais se deveriam fechar aos enganos do papado. Quando ele deu as costas a Roma, também dela volveu o coração, e desde aquele tempo o afastamento se tornou cada vez maior, até romper todo contato com a igreja papal.”
O Grande Conflito, p. 122 (p. 77 da edição condensada).
O profeta Habacuque, Durante a invasão dos caldeus (babilônicos), certamente obteve grande conforto vindo dos céus, quando, em meio às dificuldades do seu tempo, recebeu de Deus a certeza de que o justo seria salvo (Hc. 2.4). Esse talvez tenha sido o mesmo consolo que invadiu a mente do Apóstolo dos gentios alguns séculos depois. A frase usada por esse grande evangelista do primeiro século, outrora dita pelo profeta, “O justo viverá da fé (Rm. 1:17 – NVI), ecoou mais de 1500 anos depois na mente de um pároco alemão.
Em seu início de jornada, quando anunciava as doutrinas da Boa Nova, penso que o apóstolo Paulo não imaginava o tamanho do impacto e o estardalhaço que a referida afirmação faria, muito tempo depois, na mente de certo jovem religioso. Creio que o entendimento comum aos dois (Paulo e Lutero), acerca de Romanos 1.17, fora o de que: a pessoa justa não viverá neste mundo na dependência de suas próprias obras, muito menos de seus próprios méritos, mas pela confiança que deposita e pela sua fé em Deus, o criador e conservador de todas as coisas. Esta mesma frase tem outras versões, senão vejamos:
ARA: “O justo viverá por fé”;
NTLH: “Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus”.
Bíblia Viva: “O homem que encontra a vida, vai encontrá-la confiando em Deus”.
ARC: “Mas o justo viverá da fé”.
Em seu discurso doutrinário aos Romanos, Paulo reforça esse seu pensamento, ao dizer que “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm. 5: 1). Assim, introduzo o tema para lhes dizer que, no dia 31 de outubro, comemoramos o Dia da Reforma Protestante, movimento revolucionário do século XVI que teve sua gênese em seu personagem principal, Martinho Lutero, que, em 1517, publicou na porta do Castelo de Wittenberg as suas famosas 95 teses, numa clara contrapartida ante a tudo que a Igreja do momento proclamava.
É fácil olhar a história e perceber que aquele foi um período de grande ruptura, onde os paradigmas clericais e religiosos foram quebrados, todo um padrão religioso de séculos posto em xeque e, a partir de ações como a de Lutero e outros mais, aconteceram mudanças significativas no modelo cristão daquele momento.
A igreja vivia ensimesmada, com objetivos escusos e alheios ao Evangelho. Para que uma mudança ocorresse, Deus teria que levantar pessoas temerosas, cheia de ciência e de grandes conhecimentos seculares. Pois o que se seguiria iria exigir muito de como seria a nova maneira de crer e perceber as coisas. A insatisfação eclesiástica era algo notório, o que certamente já acontecia em outros arraiais fora da Alemanha.
A citação bíblica em lide foi a motivação que faltava a Martinho Lutero para que ele pudesse se debruçar sobre o papel e trabalhar os conceitos (teses) para que de fato acontecesse uma Reforma. Por certo, penso eu, esses textos já estavam eclodindo em outros certames e com outras pessoas, porém, fato é que as ideias tomaram forma e corpo na pena do grande Lutero.
O entendimento claro das escrituras de que poderíamos e podemos ser justificados pela fé, ou seja, completamente perdoados, mexeu com a estrutura do feudo clerical. Pois, naturalmente, com a aceitação do perdão, teríamos de volta um livre acesso, a possibilidade de ser um com o Pai novamente e de ter de volta a alegria de se relacionar diretamente com Deus.
Ao que parece, naquele período da Reforma, os cristãos carregavam um peso muito grande nos ombros, por isso, o entendimento de que, com fé, a coisa seria completamente diferente, produziu uma paz indescritível no coração do rebanho assustado uma paz indescritível no coração do rebanho assustado e com inúmeras oferendas ofertadas insistentemente. E mais, acreditar nessa verdade era algo acessível a todos, pois não dependia de rituais ou de dogmas, mas sim, da percepção de que a vida é muito mais do que um simples respirar, mas acreditar no Cristo ressurreto e que nEle temos supridas muito mais do que simplesmente as nossas necessidades presentes, pois o que de fato precisamos vai muito além do comer, beber ou conquistar coisas.
O que foi colocado na pauta principal da Reforma não foi o querer pessoal ou, simplesmente, uma vaidade passageira, muito menos uma mudança pura e simples, mas a real necessidade de se voltar para a vida com Deus e para um viver baseado na simplicidade do Evangelho, na Boa Nova da salvação ofertada de graça por Cristo.
Que neste momento, em que comemoramos os 504 anos da Reforma Protestante, tenhamos a capacidade de parar e pensar: “O que tenho feito para perpetuar os princípios da Reforma?”, “Quais as motivações que me fazem perseverar?”, “Novas mudanças são necessárias?”.
Seja qual for a nossa necessidade de mudança hoje, que ela nos leve a entender que precisamos ser justificados pela fé e a termos paz com Deus, por meio de Jesus Cristo. Que em Jesus possamos nos reformar todos os dias.
Glórias sejam dadas a Cristo por esses homens que se envolveram no chamado de Deus para suas vidas.
Reverendo Arlei C. Gonçalves