Níveis seguros
27 de outubro de 2021

O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito.”
João 3.8
Em seu livro “Chamado Radical” (Ed. Ultimato), Bráulia Ribeiro conta como ela, ainda jovem, foi parar no meio das matas brasileiras à procura de tribos indígenas não alcançadas. Missionária pela Jocum, ela decidiu largar tudo para atender ao chamado de pregar nas áreas mais distantes do Brasil. Sem ter vida fácil, enfrentou o calor, os insetos, as doenças e os costumes daqueles povos, como o infanticídio e a pedofilia. Logo na capa de seu livro, há uma frase de impacto que diz: “Não existem níveis seguros de consumo dessa substância”, onde ela se refere a Jesus como aquele que nos leva para onde Ele quer. Embora haja controvérsias com a forma como foi escrita, pois alguns preferem mais apuro na escolha das palavras dessa frase, ela fala dos “riscos” de se buscar a Deus e orar por uma vida mais frutífera para o seu reino.
No texto da nossa referência, Nicodemos, um líder fariseu, vem ao encontro de Jesus à noite para conhecer melhor aquele que fazia milagres da parte de Deus (v.2). Jesus logo o confronta falando que o reino pertence àqueles que nasceram de novo. Para um fariseu, isso era muito estranho, pois entendiam que o cumprimento fiel e irrestrito da Lei era a única forma de garantir a passagem pelos portões celestiais. Mas Jesus traz uma explicação chocante ao falar da necessidade de nascer de novo, já que o nascimento independe de qualquer ação do sujeito. Uma criança não nasce por sua própria vontade, ela precisa da vontade, ou pelo menos da ação de outros para vir à existência.
Ao se aproximar da Jesus, Nicodemos teve suas crenças e convicções confrontadas da mesma forma que o jovem rico que, por fim, saiu triste de sua conversa com o mestre, por não querer largar o que lhe era precioso (Mateus 19.16-22). Diante disso, muitos de nós, até mesmo os que pensam em algum momento se filiar a uma igreja, tememos nos aproximar do mestre por dois motivos. O primeiro, e em menor escala, é o medo de não sermos respondidos, ou medo de que nada aconteça junto do mestre, entendendo que ele é uma divindade de nós. Biblicamente isso não pode ser possível, já que ele disse: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28.20b). O silêncio de Deus não é a mesma coisa que sua ausência.
O segundo motivo pelo qual alguns têm medo de se aproximar do mestre é porque ele pode confrontar nossas convicções e nossas crenças, nos fazer sair de nossa zona de conforto, nos pedir para fazer coisas que não queríamos, como ir a lugares onde nem imaginávamos ou falar com pessoas com as quais não temos ou não queremos ter afinidade, até mesmo em nossa igreja, e tudo isso para a glória dEle. Nesse caso, a frase de impacto do livro que mencionamos faz todo sentido, pois de fato, “não existem níveis seguros de consumo dessa substância”. Mas, antagonicamente, não existe lugar mais seguro do que estar na sua presença e no centro de sua vontade soberana, pois ”O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”.
Presbítero e seminarista Ricardo de Souza Gaúna