Falando ao coração

2 de setembro de 2021

Falando ao coração

Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração”

Oséias 2.14

Numa sala de aula, uma professora resolveu aplicar um teste surpresa. Ela distribuiu as folhas a todos os alunos e pediu que as deixassem viradas até que fosse autorizado seu início. A docente explicou que o teste consistia em uma redação sobre o que pudesse ser visto no papel. Com a devida autorização, ao virarem a folha, eles puderam ver um pontinho azul no meio, somente isto. Ao término da avaliação, a professora leu as dissertações e observou que todos falaram sobre o tal ponto azul no meio da folha. Coisas como tamanho, cor e exata posição do ponto foram achadas em todas as respostas. Nisso, a professora chamou a atenção da turma sobre o fato de ninguém ter dissertado sobre o restante da folha de papel. Todos olharam apenas para aquilo que seria uma mancha na folha, enquanto havia uma parte muito maior para ser explorada.

No texto de nossa meditação, aprendemos que há muitas coisas valiosas para o nosso aprendizado além do deserto. Podemos resumir o deserto como o local onde não gostaríamos de estar com nossas finanças, nossa saúde, nossos relacionamentos e outras demais coisas. Mas o fato é que nos esquecemos de que há mais à nossa volta do que um ponto numa folha. Sem querer ser insensível para com os que estão passando por dificuldades, pois eu mesmo tenho minhas passagens pelo deserto, gostaria de aplicar três verdades aprendidas no texto.

A primeira é que o Senhor atrai os seus (“eis que eu a atrairei”). Mesmo Israel tendo seguido outros deuses e abandonado o Senhor, conforme o capítulo dois de Oséias, Ele mesmo diz que os atrairá de volta para si. A versão Nova Tradução na Linguagem de Hoje usa o verbo ‘seduzir’ em vez de ‘atrair’. Como um esposo dedicado e cheio de amor Ele trará Israel de volta para a sua comunhão.

A segunda é que, depois de atraídos, o próprio Deus os levará para o deserto, mesmo sendo o lugar onde não gostaríamos de estar (“a levarei para o deserto”). Mas a verdade é que no deserto é que se aprende a depender do Senhor (Êxodo 13.21-22), como na saída do Egito, e muitas vezes é exatamente onde Deus nos quer. Também é o lugar onde não há outras vozes ou ruídos além dos produzidos pelo vento.

A terceira verdade é que, neste lugar, estamos mais propícios a ouvir a voz de Deus (“falarei ao coração”). Depois que todas as vozes se calam, quando todos os recursos faltam, quando a saúde depende de um milagre, então, nossos ouvidos se abrem para o nosso criador. Existem versões que traduzem esta parte como ‘falarei com carinho’, demonstrando que, apesar de nossa infidelidade, Deus amorosamente nos atrai, nos leva para junto de si e fala aos nossos corações.

Presbítero e seminarista Ricardo de Souza Gaúna

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