Aquele que conta os passos

24 de julho de 2021

Jesus 3618220 1280

8 Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?

Salmo 56.8

            Lembro-me de quando minha filha estava ensaiando os primeiros passos e como acompanhávamos cada progresso de suas curtas caminhadas. Era comum contar em voz alta cada vez que seus pés iam à frente e tocavam o chão e vibrar sempre que os números aumentavam. Ao mesmo tempo em que torcia por sua vitória, ao vê-la tentar ficar em pé sozinha, eu imaginava também me imagina como uma criança nas mãos de um Pai amoroso que tinha o mesmo sentimento de entusiasmo por mim.

            O Salmo 56 é escrito quando Davi estava prisioneiro dos filisteus e, inicialmente, demonstra um misto de temor quanto ao que lhe poderia acontecer e, ao mesmo tempo, a Sua confiança em Deus (v.3). Ele demonstra ainda um sentimento de injustiça e clama pela retribuição de Deus aos seus algozes (v.5-7). Mas, no verso oito, algo o leva a ver além de seus problemas, e cabe ressaltar que esses problemas não sumiram com suas súplicas. Ele então expõe uma descoberta preciosa, a de que Deus está tão próximo que é capaz de lhe contar os passos. Mesmo a morte parecendo inevitável, ele é capaz de perceber que o Todo-poderoso o acompanha em toda sua caminhada. Mais ainda, além de seus passos, Davi também tinha a certeza de que suas lágrimas não estavam correndo em vão, pois Deus as recolhia em seu odre. Era um costume antigo que pranteadores coletassem suas lágrimas em pequenos potes chamados ‘lacrimários’ e depois os depositassem nos túmulos de seus entes queridos. Com isso, Davi estava querendo dizer que Deus sabe como nos sentimos e conhece todo sofrimento pelo qual temos passado.

Não estamos sozinhos em nossos passos nesta terra, temos um pai que se compadece e se importa com nossos sofrimentos, sejam eles grandes ou pequenos. Nossas lágrimas são recolhidas e levadas em conta por aquele que, como um pai amoroso, deseja estar conosco, participando de nossa caminhada, mesmo que tudo pareça perdido e a morte pareça ser o único caminho aos nossos olhos.

Este Salmo nos ensina ainda que nossa confiança na salvação de Deus não é somente para o nosso deleite. Ter a certeza de que Deus conta os nossos passos tem por objetivo último fazer com “que eu ande na presença de Deus, na luz da vida” (v.13).

Presbítero e seminarista Ricardo de Souza Gaúna

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