Jonas dentro do peixe: um conto de fadas?

31 de maio de 2021

Jonas dentro do peixe: um conto de fadas?

“Deparou o SENHOR um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites no ventre do peixe”

Jonas 1.17

            Muita gente pensa que certas passagens da Bíblia são verdadeiros contos de fadas, histórias fantasiosas. Esse é o caso do trecho de Jonas dentro de um grande peixe. “Quem acreditaria nisso?”, diriam alguns. Porém, para nós, que consideramos a Bíblia como a palavra de Deus, não há qualquer dificuldade em ver nesse texto um evento literal, que realmente aconteceu. Eis as razões:

1ª) O livro se inicia da mesma forma que a maioria dos demais livros dos profetas menores. Por exemplo, temos em Jonas 1.1: “Veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo…” Essa informação inicial, de que uma mensagem de Deus veio ao profeta, inclusive citando o nome do pai do profeta, pode ser encontrada também em Os 1.1; Jl 1.1; Sf 1.1 e Zc 1.1, mas a maioria dos estudiosos não questiona a historicidade dos livros de Oséias, Joel, Sofonias e Zacarias. Por que eu faria isso com Jonas?

2ª) Ninguém tem motivos para duvidar de que Jonas foi uma pessoa real. Afinal, sabemos que o profeta Jonas existiu no tempo e no espaço, conforme atesta 2 Reis 14.25. Pelo texto de 2 Reis 14.23-29, vemos que Jonas atuou durante o reinado de Jeroboão II, rei de Israel, reino do norte. Esse monarca reinou por 41 anos (c. 793-753 aC). Jonas profetizou que Jeroboão II reconquistaria alguns territórios de Israel, o que de fato aconteceu (2 Rs 14.28). Descobrimos também, pelo texto de 2 Reis 14, que Jonas era de Gate-Hefer (2 Rs 14.25), região da Galiléia.

3ª) Os dados geográficos do livro são reconhecidos como verídicos. Por exemplo, ninguém diz que não havia um lugar chamado Társis (Jn 1.3). Pode haver alguma discussão a respeito de onde exatamente esse lugar ficava, mas há um consenso de que o lugar era real. Também é certo que existia a cidade portuária de Jope (Jn 1.3; At 9.36), pois há outros documentos, fora a Bíblia, que comprovam a sua existência, como as “placas de Amarna” – umas quatrocentas placas de barro encontradas no Egito e que contêm correspondência oficial entre reis da Palestina e da Síria para faraós que viveram no ano 1400 aC – e alguns escritos da mitologia grega.

4ª) O preconceito de Jonas com respeito à conversão dos ninivitas é historicamente justificável. A famosa crueldade do Império Assírio – já na época de Jonas – e a possibilidade de a própria nação de Israel sofrer a opressão desse inimigo explicam tranquilamente a resistência de Jonas quanto à chance que Deus estava dando aos ninivitas (Jn 3.10; 4.1-3).

5ª) Jesus contrasta a incredulidade dos judeus de sua época com a conversão exemplar dos gentios ninivitas (Mt 12.41; Lc 11.32). Se essa conversão não foi real, que sentido haveria em citá-la? Que lição Jesus poderia dar aos judeus se essa história foi fictícia? Seria irrelevante uma citação assim, caso Jesus ou os seus ouvintes judeus considerassem esse relato como algo que historicamente não ocorreu.

            A verdade é que ou cremos na Bíblia inteira ou não cremos em Bíblia nenhuma. Um Deus que abre o mar para um povo passar e fecha esse mesmo mar para afogar um exército (Ex 14.21, 22; 26-30); que ressuscita mortos (Lc 7.11-15; 8.49-55; Jo 11.21-23; 38-44), cura cegos (Mc 10.51, 52; Jo 9.1-7), surdos e mudos (Mc 7.37), não teria qualquer dificuldade em mandar um grande peixe para levar Jonas, dentro de si, até Nínive.

“Ah, mas não há nenhum registro secular de tal conversão de Nínive.” Ora, o fato de não termos encontrado até hoje esse registro não significa que os ninivitas não se converteram. Afinal, há milhares de coisas que a Bíblia afirma e que só receberam comprovação há poucos anos, em descobertas arqueológicas recentes. Pior seria se houvesse algum documento assírio asseverando que a cidade ignorou a mensagem de Jonas. Mas não é esse o caso aqui, pois não há registro secular nem contra, nem a favor.

O problema mesmo é a incredulidade. Se não cremos na Bíblia como palavra de Deus, sempre buscaremos desculpas para não nos submeter ao que está escrito nela. Que Deus tenha misericórdia dos que agem assim.

Presbítero Kleber Cavalcante

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