Meu jardim – De novo!
10 de abril de 2021

“ busquem a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. Cuidem para que ninguém fique afastado da graça de Deus, e que nenhuma raiz de amargura, brotando, cause perturbação”
Hebreus 12: 14-15
Há alguns meses, escrevi uma pastoral sobre o meu jardim. Naquele texto, pude refletir sobre como ele foi tomado por pragas e como tive que ser socorrido pelo jardineiro para que algo ainda sobrevivesse. Comparei o trabalho do jardineiro ao de Cristo, que é a única esperança de salvação de todo homem. Bem, depois dessa dura lição, sabe o que aconteceu? Eu novamente deixei a mesma coisa acontecer. Que vergonha! Aquele duro golpe de ver tudo acontecendo novamente me fez repensar firmemente sobre a minha postura em relação ao jardim. E como não poderia deixar de ser, lá estava novamente uma situação quotidiana martelando mente e coração sobre a minha vida espiritual.
Pois bem, nas últimas oito semanas tudo mudou. Percebi que se eu me dedicasse um pouquinho todo dia, o trabalho seria mais fácil. Aqueles matinhos que crescem desapercebidamente seriam eliminados, as espécies mais resistentes poderiam ser combatidas com venenos mais eficazes. comprados com cautela e com melhor preço, e os cantinhos mais escondidos poderiam ser vasculhados cuidadosamente em busca de ervas daninhas prejudiciais.
Vou fazer a mesma associação de antes, porém, agora, tratando não da salvação do meu jardim, mas do cuidado que ele deve receber periodicamente. O jardim é nosso coração; o clima, as circunstâncias da vida; as ervas daninhas, o pecado, que pode se instalar ou permanecer no coração. A limpeza realizada pode representar as disciplinas espirituais, como a leitura da Palavra, a oração, o conselho dos irmãos e a Ceia do Senhor. O jardineiro continua representando Jesus Cristo, o salvador; mas agora, eu entro como alguém que também tem responsabilidade: cuidar do meu próprio jardim. Em termos bíblicos, isso se chama santificação.
Sempre que começo a catar os matinhos, vejo um tipo bem característico aqui Na minha casa, que não me lembro de já ter visto em outro lugar. Nesta hora, sempre penso que, apesar de existirem pragas que são comuns a todos os jardins, cada um tem suas próprias ervas daninhas, ou seja, seus próprios pecados. Essa realidade me faz olhar com graça para com aqueles que estão ao meu lado. Se eu luto com algo que é típico do meu coração, meu próximo também tem a mesma luta em outra área. Se a minha luta é tão difícil, e sei que só com a graça de Deus e com aquele esforço bíblico de cultivar o que é certo (santificação) vencerei, por que às vezes cobro de quem está junto a mim rapidez em vencer seus pecados? Sabe de uma coisa? Com a mesma graça que tenho sido tratado pacientemente pelo Senhor, tratarei meus irmãos de fé, meus familiares e todos que estão ao meu lado.
Mas veja outra coisa: por que eu tenho que deixar as coisas se estragarem para depois investir um baita esforço para consertar? Será que não dava para ser mais atencioso? Pois é, esta é a pergunta que a gente sempre se faz. Se sabemos que nosso coração é enganoso e inclinado ao pecado, por que somos tão displicentes com a oração? Por que somos tão displicentes com a leitura da Palavra? Por que somos tão displicentes em prestar contas a alguém de confiança em nossa comunidade de fé? Creio que a resposta está em não encarar a dura realidade de ficar parado, de se negar a ver que, sem cuidado periódico, o belo jardim se estragará. Às vezes, a gente simplesmente fecha os olhos como se tudo estivesse bem, mas sabe que lá fora o jardim do coração foi destruído.
Por último, depois que passei a cuidar do jardim, comecei a perceber detalhes que antes eu não via. Aqueles matinhos escondidos geravam sementes que se espalhavam por todo o jardim. De novo, neste momento, eu paro e me lembro do Salmo 19: “Quem há que possa discernir as suas próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas”. Deus pode me perdoar, inclusive, dos pecados que cometo sem perceber, mas não ganho permissão para viver sem tentar descobrir em que tenho entristecido a meu Senhor. Eu tenho o dever de, dia após dia, em estudo da Palavra, vasculhar como meu viver pode ser aperfeiçoado pelo Senhor.
Enfim, está posto o desafio. Espero conseguir cumpri-lo, não porque a sobrevivência do jardim esteja ameaçada – o jardineiro Jesus sempre estará lá para salvá-lo – mas porque faz parte da minha obrigação cuidar do jardim da vida, do coração que um dia Ele resgatou.
Presbítero João Marcos Marçal
Deus continue abençoando muito vocês. Lindo texto.