Por que não oro como deveria, se a orientação é: “orai sem cessar”?
22 de fevereiro de 2021
1 Tessalonicenses 5: 17
Meu desejo é pensar um pouco com os irmãos nesse imperativo que fala ao cristão sobre o seu dever de orar constantemente e pensar em quais dentre as coisas que nos cercam que mais tiram o nosso desejo de orar. Orar sem cessar. Existe nesta frase uma relação direta entre alegria e ação de graças, e essa relação pode ser vista em outras passagens das Escrituras, tais como em Colossenses 4: 2. “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças”.
Orar é mais do que um dever, é um grande privilégio. Pena que, para grande parte dos cristãos, essa dádiva não seja vista assim, mas deveria ser. Penso assim, porque vejo a oração como uma ordenança (Mt 7: 7). “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á” é claramente um chamado à santidade, onde, por isso, devemos nos deleitar ao falar com Deus (Sl 42: 4b). Fui com eles à casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava.
A palavra de Deus nos recomenda a oração em várias oportunidades, mas destaco apensas quatro. Primeiro, o exemplo de Cristo (Lc 22: 32). Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. Segundo, pela naturalidade de reconhecermos a própria experiência das misericórdias pelas quais, no passado, o Senhor nos agraciou (Sl 4: 1). Ouve-me quando eu clamo, ó Deus da minha justiça, na angústia me destes largueza; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração. Também porque o nosso Deus tem fidelidade com seus desígnios (Sl 143:1). Ó Senhor, ouve a minha oração, inclina os ouvidos às minhas súplicas; escuta-me segundo a tua verdade, e segundo a tua justiça. E ainda pelas promessas da Sua palavra (Sl 119: 49). “Lembra-te da palavra dada ao teu servo, na qual me fizeste esperar”. Caros irmãos, o texto de Paulo, aliado a estes mais, nos convida a “Orar sem cessar.”
Não existe nas Escrituras, muito menos na vida cristã, nada que justifique a negligência quanto à necessidade que temos de orar. Paulo viajou por muitos lugares e da morte foi livre por três vezes. Sua vida estava em constante movimento e em todas as suas andanças, ele demonstra um desejo regular de fazer súplicas a Deus. Apenas por seu exemplo de vida deveríamos, no mínimo, fazer igual.
Diferente do que alguns cristãos pensam, a oração é um mandamento que não deve seguir horários fixos de rotina, muito menos ser restrita a adesão de um grupo particular da igreja, como “as irmãs do círculo de oração”. Se for preciso ser assim e não houver outra possibilidade, ok, mas devemos ter em mente que a oração deve acompanhar a todos os crentes a todo momento. A oração, a meu ver, é inconsistente com um horário definido. Veja, o salmista orava à tarde, pela manhã e ao meio dia (Sl 55: 17). “De tarde e de manhã e ao meio-dia orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz”. Esse verso deixa claro que não existe um tempo certo, mas sim, a necessidade de orar sempre. Disse mais o salmista no Salmo 119:164: “Sete vezes no dia te louvo pelos juízos da tua justiça”. E mais, temos o exemplo clássico de Daniel, que orava três vezes por dia (Dn 6: 10b), e “três vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças diante do seu Deus, como também antes costumava fazer”.
A ordenança de Paulo aos tessalonicenses era para que criassem o hábito de orar constantemente. E assim ele os disse por entender que estamos o tempo todo na dependência do Senhor. Veja que a oração pode acontecer em cada intervalo de tempo, seja na diversão ou no trabalho. Em qualquer lugar que estivermos, mente e coração podem se dirigir ao trono de graça, não importa com o que estejamos ocupados. Se puder, em cada instante, fale com Deus. Ao orientá-los quanto ao mistério da vinda de Jesus, os tessalonicenses foram bem preparados. Eles sabiam que o dia do Senhor chegaria de forma inesperada e surpreendente, principalmente para o ímpio. Mas eles não estavam desavisados, por isso, não seriam pegos de surpresa. Assim são convocados, no verso em lide, a exercer uma vigilância constante. Seu conforto estava na esperança da certeza de que Deus não os havia chamado para uma vida de erros, mas para a adoção de filhos por meio da salvação em Jesus Cristo.
Dentre as muitas advertências que os tessalonicenses receberam de Paulo, eles foram incentivados a motivar os fracos de coração e a exercerem a tolerância para com todos. Eles foram orientados a não serem vingativos, a manterem-se firmes na alegria cristã apesar das dores, e claro, a melhor maneira de se fazer isso seria a perseverança na constância de cada um na oração e na disposição da mente agradecida. Eles ouviram claramente que não devem apagar a chama do Espírito, a não desprezar as profecias, a testar todas as coisas, a reter o bem, e a rejeitar o mal. Assim Paulo orou fervorosamente para que Deus os santificasse completamente, para que na vinda de Cristo estivessem preparados, por isso os motiva a se fortalecerem na oração.
Existem muitos motivos para nos desanimar quanto à oração. Se você se encontra nessa posição, sem vontade de orar, queria te ajudar a pensar em não desistir dessa ferramenta essencial para a vida cristã. Para isso, algumas questões devem ser observadas, para que, além da motivação, você se sinta sempre pronto a falar com Deus. Questões que nos desanimam são quase que comum em nossos dias. Sempre fui uma pessoa que ora, e penso que posso melhorar muito ainda. Mas pode acreditar, eu já me senti desanimado quanto à vontade de falar com Deus. Na minha caminhada, creio que tenha falado com Deus quase todos os dias, desde que entendi de fato e de verdade a importância de orar. Mesmo assim, nesse período, já passei quase uma semana sem orar e quase um mês sem falar com Deus como deveria. Esse foi, por certo, um tempo em que não tive vontade alguma de orar, e isso me levou a pensar em como deveria agir para fazer diferente e para que, a todo tempo que me fosse possível, eu pudesse falar com Deus.
O que me veio à mente, quando em isolamento com os céus, foram os momentos difíceis, o desânimo com as pessoas e a própria fé. Essas questões são, por si só, suficientes para nos fragilizar quanto à proximidade com Deus. Junte-se a esses fatores a falta de fé das pessoas, saúde debilitada, mágoas, situação financeira e por aí vai. Tudo isso, somado às coisas que nos cercam no secularismo contemporâneo, podem minar a nossa disposição, e como efeito colateral, diminuíram meu ânimo de orar.
Segue o que penso e que creio, pode ajudar qualquer um que esteja ou possa vir a ficar assim. Em primeiro lugar, devemos ter em mente que não é a vontade que vai nos fazer orar, mas sim a necessidade. Pergunta-se: tens essa necessidade? Pois é, você poderia aparentemente não ter, então fica a dica, ore mesmo que não sinta vontade. Bastam as questões citadas acima para nos tirar o desejo de orar, some a isso, o cansaço, as tensões e o esgotamento mental pelos quais passamos em meio a pandemia, fatos esses que levam nossa mente a atividades outras ao ponto de ela não conseguir acalmar-se parar e orar. Por isso digo, se você se sente assim, ore e ore.
Jesus orou em meio a uma dificuldade difícil de imaginar; tamanha era Sua dor, que Seu esgotamento físico o levou a suar gotas de sangue (Lc 22: 44 e 45). E talvez o Mestre, sem vontade alguma de conversar, sabia que essa era a única atitude certa a fazer, e diz o texto que “Jesus orou”. Então, meu irmão, não pense que a vontade vai aparecer, simplesmente ore; Deus estará de ouvidos e olhos atentos ao nosso esforço de se ligar à Sua presença. Quando possível, crie meios favoráveis. Você não precisa orar por “horas a fio”; não existe um manual de oração ou ensino que diga que a oração tem que ser longa, em determinada posição ou período do dia para ser aceita. Das mais simples às mais longas ou complexas, a todas Deus está atento.
Você pode orar ao acordar, indo para o trabalho, na hora do almoço, à tarde, no jantar, antes da refeição ou ao se deitar; o que não falta são oportunidade para orar. Crie ou faça de cada tempo oportuno uma possibilidade de falar com Deus. E, se agir assim, vais perceber que a vontade de falar com Deus será algo que brotara naturalmente. E vai ser assim sem que ao menos você perceba. Pense comigo: o que não falta são motivos para orar. Mas, talvez, você encontre dificuldade para se lembrar de todos. Que tal, então, relacionar todos os seus pedidos e fazer disso uma lista pessoal de um salutar bate-papo com Deus? Hoje temos a tecnologia à mão. Anote em seu celular ou até mesmo em um pedaço de papel todos os seus motivos, e sempre que um segundo de folga aparecer no seu dia, fale todos eles para Deus – celular à mão ou um pedaço de papel servem para te lembrar de falar com Deus. E mais, você pode usar o alarme do aparelho para te alertar a todo instante. Assim fica mais fácil, não é mesmo?
Talvez você se sinta sem motivos, e nesse caso, te convido a lembrar-se do mandamento de Jesus: ore pelo próximo, pelo seu inimigo, até mesmo pelas pessoas que você não conheça. Tenha certeza de uma coisa, eles precisam da sua oração. Veja, são enfermos, pessoas sem emprego, irmãos que se afastaram da igreja. É aquela discussão sem sentido, aquele prejuízo sofrido, uma ação temerária, um imprevisto de prejuízos fortuitos. Viu? Tem esses e muitos mais. O que não vai faltar, em toda sua vida, são pessoas que precisam da sua oração.
Se motivos não faltam para oramos, é certeza que temos outros de sobra para agradecer. Por si só, quem ora, tem a gratidão clara no seu coração. A oração que nos conecta ao Pai, qualquer que seja sua intenção, deve transmitir gratidão. Então, pare um pouquinho, que seja agora, e, por um instante, fale com Deus. Seja grato pela manhã, pelo dia, pelo que você tem, ou pelo que deseja. Nunca se esqueça de tudo o que Deus já fez até o dia de hoje por sua vida. Quer outra dica? Então, aí vai: agradeça sempre mais do que pede, e você vai começar a perceber que possui muito mais do que realmente necessita. Se você leu até aqui, então você já orou comigo em mais essa oportunidade que Deus nos concede. E sempre que agradecer, você perceberá naturalmente que o combustível da gratidão vai oxigenar sua mente para uma vida de oração.
Se você parar para avaliar, verá que as pessoas agradecidas possuem um coração deveras animado com a alegria de viver. E mais, se te falta algo para que possa falar com Deus, quero te dizer que a própria palavra de Deus revelada a nós pode ser orada constantemente, em cada segundo do nosso dia. Não se dê por negligente, volte à leitura das Escrituras, busque mais entendimento e conhecimento. Aprenda o que for preciso para não correr o risco de ser um cristão de somente ouvir falar de Deus. Que tal conhecer Deus de perto? Para isso, vai meu último conselho desse texto: quando o desânimo bater à sua porta, é sinal de que você deve “Orar sem cessar”, para que a todo tempo estejamos preparados. Deus nos ajude!
Reverendo Arlei C. Gonçalves