Admirável incredulidade

31 de agosto de 2020

Admirável incredulidade

“Não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. Admirou-se da incredulidade deles. Contudo, percorria as aldeias circunvizinhas, a ensinar”.

Marcos 6:5-6

                Somos admiradores por natureza. O ser humano é contemplativo desde novo, ainda que de forma despercebida ou descompromissada com todos os detalhes da coisa a ser vista. Como um atributo comunicável de Deus, que “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1:31), a contemplação com prazer pelas coisas e criaturas desse mundo está inserida em nosso DNA.

            Embora seja geralmente usada para definir alguém que está olhando algo bonito, essa palavra também pode ser usada para a contemplação de algo que não é bom. Pensemos naqueles que presenciaram um acidente aéreo ou a devastação causada por um tornado. Como não ficar admirado com a explosão ocorrida no porto de Beirute? Nesses casos, admirar se distancia do significado de contemplar com prazer e se aproxima de pasmar ou assombrar. Esse é o significado aplicado à reação de Jesus diante da incredulidade de seus conterrâneos.

            Podemos ver duas atitudes daquelas pessoas que fez com que Jesus se admirasse de sua incredulidade:

            Eles pensavam que conheciam Jesus. O verso 3 nos mostra que Jesus fora vizinho deles. Ele havia trabalhado para eles. As irmãs de Jesus eram conhecidas por eles e, muito provavelmente, os filhos daquelas pessoas brincaram com Jesus na infância. Agora eles ouvem que Jesus está fazendo grandes milagres e O ouvem falar com uma sabedoria que os deixa maravilhados. Como disse Públio, o sírio, no século II a.C.: “A familiaridade nutre o desprezo”. Corremos o risco de, ao pensar que conhecemos Jesus, ao nos acostumarmos com o divino, deixarmos de reconhecer que Ele é o nosso glorioso e grande Deus e Senhor, de temermos e tremermos ante a Sua majestosa presença e, como, aquelas pessoas, passarmos a depender de manifestações miraculosas para reconhecer que estamos diante do nosso grande Salvador.

            Por não o conhecer, escandalizavam-se nele. Ainda no verso 3, vemos que aquelas pessoas tropeçaram em Jesus por causa da sua incredulidade. O termo grego para pedra de tropeço dá origem à palavra que conhecemos como escândalo. Isso fica implícito quando o identificam como filho de Maria, e não filho de José. Aquelas pessoas estavam tentando ofendê-lo, pois o judeu era identificado de acordo com o pai, não com a mãe. “Uma vez que não conseguiram explicá-lo, optaram por rejeitá-lo.” (Kenneth Wuest). Por pensar que o conhecemos, podemos tropeçar nos seus ensinamentos. Podemos deixar de reconhecer que este que nos é tão próximo, que se avizinhou conosco, não é o grande criador de todas as coisas, como o fazem os adeptos da teologia liberal.

            A Bíblia nos traz duas informações de momentos em que Jesus se admirou: a fé do centurião romano e gentio (Lc 7:9) e a incredulidade dos judeus.

Que não sejamos como esses que causaram assombro em Jesus por sua incredulidade. Que tenhamos uma familiaridade a respeito de Jesus que alimente nosso temor em vez de desprezo, para que não tropecemos nas suas palavras e vejamos o agir de Deus em nossas vidas da mesma forma que aquele centurião.

Ricardo de Souza Gaúna

Seminarista

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