Alegria na conexão com Deus
11 de agosto de 2020

Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”
Salmo 42: 11a – ARA
Quando a tristeza invade a alma e as lágrimas correm facilmente face a baixo, percebo o quanto sou frágil, e, sem ao menos me dar conta vejo que estou triste. E não tem jeito, quando isso acontece vêm à mente inúmeras possibilidades, mas a principal pergunta, e a que nunca se cala dentro da gente é “O que fazer quando estou triste?”. Procurar em nosso corpo uma resposta é quase que tatear o escuro, pois ele, nesse momento, não nos responde nada. Nas pessoas, procuro também; às vezes as pessoas que estão mais próximas até parece que podem, diante da dor profunda, nos ajudar, mas que nada, ledo engano achar que os outros podem ser a solução para a nossa dor, que dói e parece não ter um fim definido. Não que os amigos não sejam importantes, é que o meu caso de tristeza é comigo mesmo. E aí, aí, dói e só dói…
Meus amigos, já estive tão triste que, às vezes, a tristeza é tão grande que nem mesmo sei de onde ela vem. Ela chega sorrateira, bem mansinha, como quem não quer nada, tipo um animal manso que se achega sem ao menos você perceber e, quando você se dá conta, ela já te invadiu e abateu o seu ser. Em geral, a alma abatida sempre me deixa prostrado, sem forças, sem esperança; diria meio que sem vontade de fazer nada, de agir, de levantar, de acordar. A alma… Ah, como ela dói. Tem dias que não tenho vontade nem de respirar. E a minha alma está completamente doída, ela fica triste, triste, triste…
Por que será que a alma, juntamente com o corpo, nos prostra e nos deixando tão abatidos? Que mistério é esse em que a tristeza é tão enorme que nos tira a força para seguir? Que mistério é esse em que a dor é tão grande que não pode ser medida? Que tamanho de dor é esse que não compreendemos a sua extensão? Que mistério é esse em que a dor, em sua amplitude, é sem tamanho de altura ou profundidade? Como sair do lugar?
Como já ouvi e vi pessoas tristes por demais, permito-me expor um comentário por aqui. Sei que muitos vivem uma tristeza que, às vezes, não sabemos bem definir, ou mesmo como vem, de onde vem ou por que ela vem? Que coisa isso, não! Quando uma situação difícil e complicada abate nossa alma, fere a nossa moral, abala a pessoa mais ética que seja e tira de nós a referência da nossa índole. E chegamos a pensar que não existe uma pequena possibilidade de solução que seja. Quem já procurou e nunca encontrou uma resposta para solucionar uma dor profunda? Às vezes, encontramos com mais facilidade soluções para a dor dos outros, para os filhos dos outros, para a família do outro, mas como é complicado quando, agora, é comigo, é no meu ser. A alma está abatida, e o que fazer? Soluções existem para os outros, mas e eu? Como é difícil sair com mais facilidade quando a causa é comigo. Pode acreditar, é muito difícil sair de uma grande tristeza, de uma tristeza profunda, quando a alma está abatida. E por que será que eu não consigo resistir quando ela me prostra, e abate, definha e prostra a minha alma?
Como todo cristão, eu tento me lembrar do melhor exemplo; na minha lógica, não existe um melhor, e ele vem de Jesus. Talvez Jesus tenha sentido – digo ‘talvez’ – tristezas das mais profundas. E o que Jesus faria diante de uma tristeza como essas em que a alma se sente abatida? Porque, pelo lado de dentro, talvez não saibamos, mas por fora, com rosto exposto, ela é vista a quilômetros de distância. Quem sabe a, ou as atitudes do Mestre nos ajude a sair dessa profundeza da alma. Me pergunto sempre: “Como será que Ele resistiu quando sentiu, profundamente, a sua alma abatida, com choro contido e até mesmo incontido?”.
Se você bem se lembrar, Jesus deve ter ficado muito triste quando soube da morte de João Batista: “Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à parte” (Mt 14: 13a). João era mais do que um simples amigo. Além de primo, era precursor do mesmo propósito de fé. Posso conjecturar que, ao menos na infância, ele e Jesus foram amigos. Talvez grandes amigos. Uma pessoa que deve ter convivido um tempo de muitas brincadeiras na infância. Os crentes sabem, hoje, que João seria o precursor, aquele que abriria o caminho para que o ministério de Jesus acontecesse. E então, meio que de repente, Jesus recebe a notícia de que João Batista fora morto, de maneira brutal e inescrupulosa. Pense, que tristeza não deve ter abatido seu Espírito. Quem saberia dizer o tamanho da dor profunda que invadiu seu ser? Creio que Jesus deve ter sentido no coração uma dor tão grande que, naquele momento, não seria possível alguém tecer em palavras algo que fosse possível para melhorar a sua autoestima.
Em sua condição humana – que bom Deus ter se tornado homem –, Ele sentiu como podemos ficar tristes profundamente. E nessa condição, penso, Jesus realmente não saberia, talvez, como reagir diante de tamanha dor, mas o que ele fez é algo que nos ensina muito. Contudo, mesmo diante de seus exemplos, a gente não sabe se teria coragem de tomar a mesma decisão ou sequer se temos como saber se essa atitude, para nós, seria a ideal. Assim ele age: Jesus Cristo entra no barco, se dirigi rumo ao mar e fica sozinho. E acreditem, como eu já ouvi dizer que ficar sozinho nessas ocasiões não ajuda em nada. Mas me pergunto, por que Jesus agiu assim? E aí me vem à mente que o Filho estava num bate-papo direto e reto com o Pai. Na sua inquietude humana, e por talvez estar se definhando por dentro, é a conexão com o Pai que traz, quem sabe, um novo ânimo. Penso que Sua conversa franca deve ter restabelecido seu astral, pois que, ao voltar e ao contemplar a multidão, seguiu em dar continuidade à sua missão. Pois é, todos temos atribuições, mas também sabemos que a tristeza profunda pode impedir o prosseguimento da nossa missão.
A pergunta não cala, não é mesmo? Como foi que Cristo conseguiu sair daquela tristeza profunda? Alguém diria: “Ele era Deus, simples assim”. Que nada. Sua condição humana naquele instante era bem clara. Então, o que eu aprendo com essa decisão de Jesus? Veja se concorda: primeiro, a gente precisa parar e, às vezes, se isolar um pouco das pessoas, no meio do mar. O máximo que Ele poderia contemplar, se sentado estivesse, eram as ondas, e sentir o reflexo claro do céu nas muitas águas. Também olhar para cima, olhos fitos no céu, e numa postura sublime, parado, pensar em Deus e conversar sozinho com o Pai. Falar com Deus, como diz um poeta, “acalma a alma”. Falar para Deus o quanto a alma chora, o quanto corpo sente, o quanto a vida dói e nos apresenta situações difíceis. Tudo isso Jesus deve ter falado e, certamente, muito mais. E diante desse estresse todo, ao acalmar a sua alma, Ele consegue voltar, seu ânimo reaparece. A gente deve pensar “Mas Ele só teve esse momento difícil?”. Tenho certeza que não. O Mestre teve outros processos difíceis sim, mas aprendemos com eles também.
Em outro ato, diante da morte do seu amigo Lázaro, Jesus deve ter sentido tamanha comoção que nem mesmo aquela multidão que estava à sua volta foi capaz de consolá-Lo ou de segurar suas lágrimas. Às vezes, nos vemos em meio a uma multidão e, mesmo próximos a um grande número de pessoas, nos sentirmos tristes e sozinhos. Não é a multidão que trará a solução e a alegria que precisa preencher o seu coração quando você se sente prostrado e até mesmo sem saber o que fazer diante de tamanha dor, ou quando sente o abatimento da alma. É fácil aprender com isso, penso (risos). De cara, vejo que não é a multidão que tira a tristeza. Não é a multidão que alegra o coração. Não é estar entre milhares de dezenas de pessoas que vai permitir que você se recupere e se sinta uma pessoa melhor. Não é o grande número de pessoas que você tem na sua rede de “amigos” ou no grupo da “rede social” que vai interagir para que você fique melhor.
Em meio à tristeza que tomou conta do seu coração e do coração do Mestre, não é uma multidão de pessoas que tem a solução para o seu problema. O seu problema é seu filho específico e é você o principal personagem desse enredo. Mesmo em meio a toda ajuda possível, é de você que deve partir a iniciativa para uma saída viável. Considere respeitar a sua pessoa com seus limites. Respeite a sua natureza e, assim, respeite aquilo que você é. Não tente ir além das suas possibilidades. Nem Jesus fez isso. Tudo o que você adquiriu como aprendizado da vida, tudo aquilo que até aqui você presenciou e viveu, que te fez sofrer ou que te alegrou é apenas o começo da trilha que precisa ser iniciada rumo à retomada do ânimo, mesmo que você precise se isolar no meio do mar, olhar para as ondas e para os céus. É tudo isso junto que, hoje, te deixa com pelo menos um mínimo de possibilidade de se levantar. Nesse momento de grandes testes para a vida, quantas almas se encontram abatidas por causa de um minúsculo vírus que se apresenta implacável dia após dia.
Eu continuo ainda triste, muito triste, mesmo sabedor que sou de que Cristo se isolava quando a tristeza o abatia. Na ocasião em que Seu rosto se encheu de lágrimas, com coração numa dor profunda pela perda do amigo, Jesus, mesmo com dezenas de pessoas à sua volta, chorou. Se Cristo chorou, é porque a sua alma sentia profundamente aquele momento de dor. Sua alma sentiu muita compaixão pela pedra do amigo. Seu choro se deu também por ver a dor das irmãs que presenciam a morte do irmão e também se sentem com a alma abatida. Chamo isso de efeito cascata da tristeza profunda. Isso dói, e dói na alma.
A cena é bem conhecida. Dezenas de pessoas em volta do mestre e, mesmo assim, a sua alma sente dor. A situação será invertida brevemente, mas não são as pessoas ou a quantidade de pessoas que invertem o processo de tristeza, mas sim, quando novamente ele se dirige ao Pai. A conexão é singular, o milagre acontece e Jesus vê, diante dos seus olhos, seu amigo voltar à vida. Lázaro sai da sepultura; estava morto e reviveu. A morte de Lázaro foi real, e a tristeza que invade o ser pode ser tamanha a ponto de matar a alegria. E tal como Lázaro saiu da sepultura, o ensino de Jesus aplicado à nossa vida me descortina o fato de que posso sair dessa tristeza que causa tamanha dor e que abate a alma. Não é pela multidão, não é pelo vírus do isolamento, nem pela solidão, é pela conexão com Deus. Qual não foi a alegria que o mestre sentiu ao presenciar Lázaro cheio de vida. Jesus estava profundamente triste, mas muito se alegrou a sua alma. E num abraço, sorriso aberto com um Lázaro pronto para desfrutar novamente do prazer da vida. Aprendo com Jesus, de maneira clara, que não importa, se sozinho ou na multidão, o importante é a singularidade da sua conexão com Deus.
Posso ficar completamente estático diante do sofrimento ou de uma tristeza que causa mais sofrimento ainda. Tristeza deprime. Diante de uma situação extremamente dolorida, a pessoa fica deprimida e se prostra, e só temos uma saída diante de tudo que vemos. Conectar-se com Deus é estar isolado, mas conectado com o Pai. É estar em meio à multidão, mas com pensamento fixo no Pai. Sabemos que somente Deus tem a capacidade e o poder de levantar o ser que está prostrado.
Te convido a pensar comigo em outros personagens das Sagradas Escrituras que se prostraram em meio a uma grande tristeza, as quais acredito que também ficaram de alma abatida. Temos o caso de Davi que, dentro de um quarto, em meio ao resultado infeliz de um pecado cometido, chora rios de lágrimas que inundam o ambiente. A falha por ele cometida causou diversos males, dentre eles, uma tristeza tamanha em que os olhos não continham as muitas lágrimas. Somente isso é suficiente para nos apercebermos de que a dor e a tristeza podem ser tamanhas ao ponto de nada poder deter o sofrimento que invade a alma. Naquele contexto, não tinha como ele se isolar. Juntar-se à multidão, também não era possível, tamanha era a sua vergonha. As pessoas, nesse caso, talvez só aprofundariam ainda mais a sua dor. Então, ele se reclusa e chora, e as muitas lágrimas revelam o tamanho da sua tristeza.
Na minha dor e grande tristeza, penso ainda na vida de Jeremias. Esse homem chorava ao ver o seu povo sofrer por não obedecer a Palavra de Deus. Ele viveu num tempo onde reis e sacerdotes falavam aquilo que desejavam e desprezaram por completo o que Deus queria para a Nação de Israel. Os homens viviam a se contentar a seu bel prazer. Ao ler os relatos de Jeremias, percebemos como doía o coração deste homem que, na Palavra, é conhecido como o profeta chorão. Mas como não chorar, e como não sentir a dor do seu povo? Talvez, porque a sua tristeza era tamanha, ele não conseguisse se expressar de outra maneira. A sua alma era triste, a sua alma sentia dor. Ele, ao que parece, não encontrou junto aos homens, acredito que muito menos sozinho, a resposta que o motivasse a segurar suas lágrimas. No entanto, seu ânimo e consolo se deram pela fé, ao visualizar que o povo de Deus, a nação de Israel, retornaria para sua terra natal, mas não menos que depois de um longo exílio. Nem sempre Deus nos conforta como desejamos. O que é certo é que Seu consolo e a sua alegria não têm precedentes entre os homens.
Uma busca mais acirrada pelas Escrituras vai nos mostrar muitos outros que passaram por momentos de profunda tristeza, mas vamos apenas a mais um. Paulo, o grande apóstolo dos gentios, o homem que Deus levantou para levar o Evangelho a diversas nações e a inúmeras tribos e raças. Em meio a tantas missões evangelizadoras e confortadoras para muitas almas deveras abatidas, esse homem vivia sendo perseguido, preso, apedrejado, torturado, sofrendo açoites inúmeras vezes, caluniado e mal interpretado. Dos males, sofreu os mais diversos; das prisões, deve ter conhecido muitas, nos lugares por onde andou. Paulo fez tudo isso por uma causa, para anunciar a salvação em Jesus. Suas dores e seu choro, talvez suas tristezas diversas e profundas, dores que ao ver desse pobre cristão, eram legítimas. Tudo ele fez com uma abnegação irretocável, com uma entrega incomparável, e assim agiu, pelo seu grande amor com o que Cristo o cativou. Tudo fez por amor a Cristo e em prol do Evangelho.
E será que Paulo sobreviveu a tudo isso sem que sua alma tenha sido abatida? Duvido muito. Teria ele somente colecionado alegrias diante do exposto acerca do seu modo de viver? Hoje, pelos relatos, sabemos que teria colecionado dores profundas. Encontramos, inclusive, Paulo falando do seu espinho na carne. Uma coisa, algo que não conseguimos dimensionar, sequer conjecturar, pode ter sido esse espinho – uma coleção das muitas tristezas profundas que abatiam bem dentro, lá no fundo da sua alma, por exemplo. É surpreendente quando, ao fim da carreira, esse cidadão dos céus que sofreu dores tal como poucos, ter dito “combati o bom combate”. Ele teve, tal como muitos do seu tempo e dos nossos dias, questões que foram doloridas, que doeram demais sobre a sua existência longa, profícua, esperançosa, mas também doída e de alma abatida. Poucos, tal como Paulo, recuperaram o ânimo ou tiveram oportunidade para isso (Hb 11). Percebemos que de graça e pela graça ele recebeu o consolo que invadiu a sua alma: “para mim, o morrer é lucro e o viver é Cristo” (Fl 1:21)
Por aqui, tento, a meu ver, delinear nas letras abaixo, uma provável possibilidade de o abatido de alma se reerguer. Para alguns, provável, mas vejo-a como perfeitamente possível para essa retomada de ânimo, depois de abatida a alma. Nas Escrituras, vamos encontrar a palavra “alegria” expressa de uma maneira diferente de tudo aquilo que encontramos nas pessoas de forma espontânea. Ela está inserida em um contexto que a revela longe da multidão, do isolamento ou de um quarto fechado e muito menos em volta dos que desprezam a verdade dos profetas e das Escrituras. Na multidão, podemos até encontrar entendimento e sabedoria, mas não a alegria que o abatido de alma precisa. No isolamento, podemos pensar profundamente em como chegamos à tamanha dor ou em como nos deixamos abater de tal forma. Talvez, encontraríamos soluções em um dos diversos recursos que podem ser úteis, mas nunca encontraríamos uma alegria que faz brotar o sorriso de volta novamente. Falo da alegria que está revelada nas Escrituras, que vem do Senhor. Essa alegria vem para quem se conecta com o Senhor e ela é a nossa força. Ela é aquilo que você não entende, mas que tira de você a tristeza mais profunda e torna a aformosear o seu semblante e lhe traz novo ânimo.
A alegria que vem de Deus expulsa a dor do coração. A alegria do Senhor é aquilo de inexplicável que transforma o ser. É o transcendental, que não permite a mente finita entender o quem vem do Deus infinito. A alegria que vem do Senhor é a única hipótese, na perspectiva deste simples pregador, que realmente pode tirar o homem do buraco; essa alegria é a única coisa que pode levantar o ser que está prostrado. Não por acaso a alegria que vem do Senhor é a nossa força. Do Senhor procede toda sorte de bênçãos. Em Deus temos as garantias do impossível. É no sustento de Jesus Cristo, em meio a tristeza mais profunda, que precisamos nos conectar para buscar forças no Deus da nossa salvação e nEle nos achegarmos para recuperar de volta a alegria perdida.
Se conectar com o Senhor para nEle buscar forças é imprescindível, mas para tanto, a introspecção se faz necessária, quando se pode e consegue fazê-lo, claro. Porque, o que mais iria tirar você de uma tristeza tão profunda quanto a perda de um verdadeiro amigo, precisamente de um amigo muito próximo, muito querido? Jesus, quando viu a morte de Lázaro, deve ter parado, refletido, olhado para as pessoas e feito uma conexão direta com Deus para buscar no Pai das luzes a alegria necessária para encher o seu ser. Ele buscou em Deus as forças que lhe eram necessárias para superar e talvez suportar tamanha dor. Foi em Deus, na sua conexão direta com o Deus da alegria, que Ele venceu aquela grande dificuldade. É pela alegria da força que vem do Senhor que superamos tamanha tristeza, e essa alegria vem do Pai. Ele Se revela e nos mostra o que tem de melhor para cada um dos Seus. Qual não foi a alegria de Jesus por ter visto seu amigo Lázaro sair da sepultura?
Veja Paulo, em meio às dores que sofreu e aos mais variados sofrimentos que passou. Diante de tudo que seu corpo teve que suportar quando preso, abatido, apedrejado… Onde esse homem encontraria forças para sobreviver e para dar continuidade ao chamado que Deus tinha para sua vida? Em tudo que sabemos desse homem, em todos os momentos da sua vida que nos é apresentado, não vejo outra possibilidade, senão na conexão que ele, a todo momento, mantinha com Deus, em seu se revelar a Deus de maneira desnuda, em tratar direto com o Pai. Em sua busca profunda para suportar seus revezes, ele encontrou ânimo. É pela conexão, é pela força, na alegria que vem do Senhor, que somente Deus poderia trazer ao seu coração, que seu ânimo é recuperado. Para Paulo, cheio de alegria, o Viver é Cristo!
Por que iríamos nos alegrar noutros princípios de fé? Por que buscar satisfação em prazeres diminutos? Por que buscar a alegria em coisas fictícias e passageiras, nas falácias dos homens ou em momentos e coisas esporádicas, que não passam de desejos ruins e paliativos que não resistem à pressão? Por que buscar no temporário dessa vida, se somos presenteados com o eterno? Por que buscar naquilo que é passageiro algo para preencher a alma que vai viver eternamente? Perguntas eternas não se satisfazem com respostas temporárias. A eternidade colocada no coração humano só pode ser preenchida quando o homem entra em conexão direta com o Deus infinito.
Na humilde opinião desse pregador, só existe uma possibilidade de você sair da tristeza profunda que invade a alma e a deixa abatida. Mesmo que seja gradativa essa possibilidade, é apenas na conexão direta com o Pai que encontramos o caminho de volta para a alegria. Mas não falo de uma conexão temporária, para resolver aquele problema temporal ou pontual. Refiro-me a uma conexão constante, a que envolve a sua manhã, quando você agradece a Deus por mais um dia, por estar bem; agradece por Ele ter te presenteado com o dom da vida, essa conexão que o faz permanecer junto ao Pai o dia inteiro. É a mesma conexão que deve invadir a sua tarde e é certo que isso te leva novamente a ser grato, pois Deus lhe propiciou a condição de viver e lhe estendeu a mão. Ele te apresentou pessoas com as quais você pôde conversar e te concedeu um lugar para morar. Essa conexão com o Pai é de vital importância e faz toda a diferença na sua vida. Essa conexão com Deus durante a tarde faz você pensar, refletir, se recolher e buscar a força de que precisa para dar sequência a mais um dia de vida. E então, chega a noite, quando a gratidão precisa tomar conta do seu coração mais ainda, porque veja, você viveu mais um dia de vida. Ele te deu o pão de cada dia e um dia inteiro no qual Ele te guardou. Diz a Palavra: “este é o dia que o Senhor fez, então, alegre-se e regozija se nele”, sabendo no seu coração que Ele te deu a oportunidade de, no mais íntimo do seu ser, você reconhecer que o ânimo recobrado vem da alegria do Senhor. Ele é a nossa força.
Busque a força necessária para a retomada da sua alegria em Deus. E não tente achar que existe em si mesmo forças para você encontrar, em outras situações, os motivos e as razões que possam te levantar e te tirar do chão. É importante, sim, que você dê o devido crédito aos meios auxiliares, como medicamentos e atividades que movimentam seu físico. Esse pacote certamente deve ser incluído. É importante que seu físico esteja bem para você buscar energias a fim de conseguir sair do lugar. Porém, para aplacar a tristeza que abate a alma e a deixa prostrada, para aplacar de vez a dor que invadiu seu coração, para tirar essa dor, existe apenas um caminho, e ele é sobremodo excelente. O caminho a se seguir é buscar, tal como no exemplo de Jesus, conectar-se com Deus. Assim como fez Davi, reconhecer o que precisar ser reconhecido e se conectar com o Pai. Se conectar como Jeremias e receber a esperança que invadiu o seu coração. Se conectar e pensar em Paulo, para chegar ao fim da carreira e poder dizer “Viver é Cristo”. Tenha em mente que buscar a alegria do Senhor só é possível se mantivermos uma constante conexão direta com o Pai, o dia todo, todo dia. Através dessa conexão, Deus pode trazer de volta a sua alegria. Que Ele te abençoe e nos ajude!
“Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus meu.”
Reverendo Arlei C. Gonçalves
Excelente texto, no conteúdo e na forma. O caminho apontado para aqueles que se encontram tristes ou mergulhados em profunda tristeza voltarem ao estado de contentamento é, como o senhor mesmo costuma dizer “sobremodo excelente”. O texto não apenas lhes diz o que fazer com o”Vá até Cristo”, como sempre ouvimos e dizemos, mas traça uma trajeto, percorrido pela própria experiência do autor, que vai da instalação do quadro, passando pelas principais nuances e intempéries inerentes ao estado da tristeza, chegando no ponto central de como e o que fazer para, então, colocar em prática o escape da multidão, o “refugie-se no Pai”. E o melhor, a trajetória é iluminada por diferentes exemplos a serem seguidos, que Deus nos providenciou em Sua Palavra, dentre eles, o nosso modelo mor, o Senhor Jesus Cristo. Glória a Deus por tamanho entendimento que nos é transmitido por meio desta reflexão tão profunda quanto edificante.