“Ser-me-eis minhas testemunhas”
4 de agosto de 2020

Era o ano de 1952 quando o missionário americano Jim Elliot e mais quatro amigos da mesma fé, após muita oração, decidiram levar o Evangelho do Senhor Jesus Cristo aos índios Quéchua, localizados na região amazônica do Equador. Lá, não demorou muito para que Jim se lembrasse dos índios aucas (hoje conhecidos como Huaoranis), que tinham a reputação de serem muito agressivos, além de se privarem de todo contato com o mundo exterior. Assim, resolutos nessa intenção, o tal grupo de missionários elaborou um plano evangelístico que ficou conhecido como “Operação Auca”, cuja execução aparentemente foi mal sucedida.
No dia 8 de janeiro de 1956, resultante do contato inicial com os aucas, os corpos dessas testemunhas fiéis do Senhor foram encontrados brutalmente perfurados por lanças e machados. Tempos depois desse trágico e “glorioso” episódio, a esposa de Jim Elliot, Elizabeth, autora de dois livros publicados posteriormente, tornou conhecida a célebre frase do marido-mártir, registrada em um diário pessoal dele, a saber: “Aquele que dá o que não pode manter, para ganhar o que não pode perder, não é um tolo”. A propósito, pode-se observar que essa declaração de Jim Elliot encerra um autêntico paradoxo, ou seja, uma aparente falta de nexo ou lógica, uma contradição, conforme leciona os dicionários. Pois bem. Na Bíblia, encontramos também alguns paradoxos, por exemplo, o registro da expressão do Senhor Jesus: “… quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á”. (Mt 16.25,26).
Na época, a decisão desses missionários de evangelizar uma comunidade humana silvícola e de reconhecida hostilidade foi reputada, no mínimo, como insana. Para eles, no entanto, cumprir a grande comissão do Senhor Jesus Cristo, de pregar o Evangelho a toda criatura sem acepção, ainda que tal empresa pudesse ser selada com o próprio sangue como testemunho, foi um ato, acima de tudo, de incontestável fidelidade à vocação celestial, de amor a Deus e aos seus eleitos e da inabalável certeza de que ao perderem a própria vida achariam a verdadeira vida, que transcende eternamente a própria morte, a saber, a vida eterna. Agindo assim, eles não foram tolos, pois, realmente, perderam o que não poderiam manter, a vida neste mundo, mas ganharam o que jamais poderão perder, a vida além-mundo, ao lado do Senhor que os comissionou para essa gloriosa missão na selva amazônica. Eis aí o grande e desafiador PARADOXO da vida! Eles partiram sem NADA e ganharam TUDO.
Amados, preciso concluir dizendo que as esposas desses missionários martirizados, algum tempo depois, levaram a cabo a missão deles e foram bem sucedidas. Os aucas foram evangelizados e o assassino de Jim Elliot, ao se converter ao amor de Cristo, nomeou o seu casal de filhos com o nome de Jim Elliot e Elizabeth, honrando assim a memória desses servos do Deus Altíssimo. E tudo isso para que também se cumprisse a Palavra do Senhor que diz: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (I Co 15.58).
Por fim, o Espírito Santo, como preparação da membresia da nossa Igreja para a evangelização deste mundo caído, em tempo e fora de tempo, e sem acepção de pessoas, tem usado os nossos ministros a fim de nos advertir: “… através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22).
No mais, inspirados nesse breve relato, aparentemente trágico, envolvendo esses fieis e paradoxais missionários do Senhor, resta-nos entender que:
“Evangelizar é preciso; viver para si não é preciso.”
Presbítero Carlos Amoras