Salário e Dignidade

1 de maio de 2020

Salário e dignidade

O Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também

(João 5:17)

Todo trabalhador é digno do seu salário, assim nos garante as escrituras. A questão talvez esteja no empenho com que cada um se doe à atividade que lhe é proposta. Jesus disse com muita propriedade: “O Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também ” (Jo 5: 17). Essa resposta trouxe grande revolta porque, na máxima de Jesus, o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado, e suas respostas sempre faziam com que seus questionadores ficassem a pensar.

Existe também, no computo do salário, uma necessidade de descanso, visto que é merecedor do descanso o trabalhador que se empenhar em realizar os seus trabalhos de maneira digna e eficiente. É a Bíblia que nos garante que se fizermos e seguirmos o exemplo de Jesus, estamos no caminho do contentamento: “Sereis felizes se o puserdes em prática” (Jo 13: 17). Já se perguntou se você desenvolve bem a atividade que lhe é proposta? Você é motivado por executá-la da forma correta? Tudo que você tem realizado tem alcançado os resultados que você ou as pessoas esperam? Todas as questões acima são pontuais, mas te convido a pensar nelas nesse momento. Reflita um pouco sobre seu trabalho e a dignidade do seu salário. Essas propostas não dizem respeito apenas à suas atividades seculares. Que tal pensar também no seu envolvimento no reino. Você se empenha por um trabalho que, aos olhos do Pai, é bem visto? Para ajudar você nessa reflexão, gostaria que entendesse melhor o real significado de servir. Vamos às ações do bom trabalhador.

Alguns querem ser eficientes, outros verdadeiros, outros mais pontuais… Todas essas qualidades e outras mais definem o bom trabalhador. Quanto aos desleixados e incompetentes, estes vou deixar de lado. Ter boas qualidades é, sem dúvidas, um legado que se aprende quando se esmera por realizar com eficiência as tarefas que nos são propostas. Um grande administrador, Peter Drucker escreve que “ser produtivo é conseguir o melhor rendimento com o mínimo de erros”, e isso, claro, consiste em fazer as coisas do modo correto. Mas, em geral, relacionamos isso aos níveis operacionais de uma empresa secular.

Bem, falando mais aqui das expectativas espirituais, nosso trabalho maior consiste em servir. E como isso é bem diferente das propostas seculares, então, que o devo fazer? Como devo agir para realizar um trabalho extremamente importante para o reino de nosso Senhor e Salvados Jesus Cristo? Nossa obra começa por evangelizar. Somos, em meio a grandes incorporações, dotados de poucos recursos financeiros e, em sua grande maioria, temos pouco tempo disponível. Contudo, Jesus sempre trabalhou, então, por que nós ficaríamos parados? Devemos, entretanto, ter a expertise dos que com sabedoria sabem remir o seu tempo, para que afazeres outros não tirem a nossa motivação no serviço ao reino.

Existem muitas pessoas que já escreveram sobre como remir o tempo, para melhor empregá-lo na atividade pastoral, aconselhativa e espiritual, enfim, no serviço ao Senhor, mas será que existe um modelo que seja ideal para um bom serviço na igreja de Cristo. O que de imediato posso responder é que, enquanto o trabalho de serviço no reino não for uma necessidade de vida e de realização para você, ele vai ficar apenas a desejar e pouco será produtivo. Temos muitas prioridades na vida. Priorizamos aspectos pessoais, família, emprego secular, lazer etc. Em geral, realizamos essas atividades com eficiência, mas quanto ao serviço no reino, enquanto ele não for uma necessidade, ou uma prioridade, vamos dedicar muito pouco dos nossos já parcos recursos e tempo para este fim.

Conquanto, mesmo os que realizam e dedicam mais tempo ao serviço na igreja, é preciso que respondam: será que realizo bem a atividade proposta ao meu dom? Como minha dedicação à igreja a que pertenço vai ampliar suas fronteiras? Meu serviço no reino cumpre o mandamento de evangelizar (ide)? Quando me envolvo e compreendo a estrutura na qual estou inserido, ao me dedicar a Cristo e à sua obra, consigo então pensar no que envolve todo o processo da evangelização. Para exemplificar, pense bem: imagine nossa comunidade, no contexto em que está inserida; pense na realidade cultural socioeconômica de Águas Claras. Rapidamente você vai perceber que um dos grandes desafios que enfrentamos é a quantidade de desigrejados que nos rodeiam. Muitos destes estão decepcionados com sua antiga religião, mas, em sua grande maioria, a decepção mesmo é com a famigerada teologia da prosperidade, que tudo promete e nada realiza – salvo o que alguns conquistam pelo esforço do seu próprio trabalho, o mais é falácia. A população da nossa cidade é, na sua grande maioria, de jovens ou casais com pouco tempo de casados; são pessoas que estão no auge da sua produtividade, e muitos desprezam Deus ou até mesmo uma religião qualquer; estão firmados em uma descabida crença pessoal de que conseguem alcançar o que quiserem por sua própria capacidade.

Vemos uma necessidade clara de um trabalho que alcance essas pessoas e, claro, não podemos deixar de pensar nos demais. Sejam jovens, velhos ou crianças todos precisam ouvir de Jesus. Daí a importância do serviço. Qual foi a última vez em que você se dispôs ao serviço no reino? Em que atividade você se julga capaz de, com sabedoria, empregar forças para que o Trabalho do Senhor tenha continuidade? Sempre que indago as pessoas a esse respeito, o que vejo são, em geral, respostas evasivas, coisas do tipo “Não tenho capacidade” ou “Isso não é para mim”. Para quem seria, se outros antes de nós não tivessem arregaçado as mangas e se dedicado à evangelização? Onde estaríamos? O que seria de nós?

Meu convite é para que possamos fazer, no mínimo, o necessário para que, no fim da caminhada, sejamos dignos do nosso salário. Isso envolve uma vida interessada na missão de servir ao próximo. Se envolver é realizar um trabalho com o claro entendimento de que não realizamos nada que tenha resultados palpáveis, mas que são altamente eficazes, quanto ao cuidado com o ser e sua alma. Você não precisa se encher de várias atividades, mas se fizer com eficiência o que lhe for proposto, certamente seu ganho, mesmo que invisível aos olhos humanos, será imensurável aos olhos de Deus

O texto em lide faz mais que um convite, ele se traduz numa bela motivação a fazer com virtude o que nos é proposto de maneira a fazer bem feito. Isso traz muitos benefícios. Assim, teremos a grata satisfação de cumprir nosso chamado no reino, qual seja: executar satisfatoriamente nossos sonhos de ver as pessoas se renderem aos pés de Cristo.

Não caia no erro de achar que sua atividade vai ser para a Igreja em particular, mas sim, que você está a serviço do reino de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Desafios não vão faltar, vivemos num contexto onde valorizam por demais o que é belo, mais tecnológico, mais moderno, menos trabalhoso e mais produtivo. Para tanto, contamos com a maior estratégia já criada em todos os tempos: a nossa fé aliada à ação do Espírito Santo em convencer o homem dos seus caminhos errados e das suas necessidades de entregar sua vida a Cristo. Jesus é nosso maior e melhor exemplo. Ele curou um paralítico no sábado. Criticado pelas autoridades religiosas, fervorosos quanto à lei, mas falíveis quanto à sua prática. No entanto, Ele, em sua sabedoria, responde: “O Meu Pai trabalha até agora e Eu também trabalho”.

Nesse episódio, Jesus não perde a oportunidade que lhe é oferecida e propõe a Sua interpretação da Lei. Penso que aquela cura no dia de descanso foi proposital. Veja que em nenhum momento Jesus negou sua obra na criação e que no sétimo dia descansou, porém Cristo acrescenta uma verdade que deixa perplexos seus ouvintes. Seu ensino bíblico sobre o trabalho tem uma clara interpretação contextual, ou seja, que o trabalho tem sua origem e criação nos céus. Sim meus queridos, o trabalho é de origem divina e é extremamente importante à vida salutar de todo ser.

O homem, como criatura de Deus, foi desenvolvido para ser um ser ativo? Preguiça, marasmo e qualquer conjectura parecida não tem sua origem no Senhor da glória. Em nosso ser, temos a virtude da mente de Cristo. Somos templo do Espírito Santo, pois é a ação do Espírito Santo em nossas vidas que dá razão para que o nosso trabalho seja aceito pelo Senhor. Visto que o “Pai trabalha até agora”, coloquemos em prática a ação de servidores do Reino que, a seu tempo, serão agraciados com um salário Digno. Que sejamos dignos de viver mais um dia do trabalho.

Deus nos abençoe!

Reverendo Arlei Gonçalves

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