Por que cessou o culto solene presencial?
23 de abril de 2020

Base Bíblica: Êxodo 12:7-13, Lucas 22:14-23 e 39-46, Isaías 1:11-15, Oseias 4:6-9, 12-13 e Malaquias 1:10.
A relação mais sincera, mais verdadeira, profunda e legítima se dá nos recônditos mais íntimos da privacidade. E com a Páscoa sempre foi assim, desde a sua instituição, no Egito, momentos antes da última praga, simbolizada pelo sangue do cordeiro passado nos umbrais das portas para salvar da morte o primogênito daquele lar. Ali, em um contexto de isolamento social familiar, um simples cardápio de pães asmos, ervas amargas e carne assada de cordeiro, quando da passagem do anjo da morte, a comerem às pressas, com os lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão, a indicar com aquele ato a passagem da morte que, em maior ou menor medida, é sempre amarga para a vida. Isto é, da urgente libertação da escravidão do pecado, simbolizado pelo Egito, que exige renúncias e sacrifícios rumo à árdua, mas gratificante Canaã Celestial.
E essa passagem, na última instância da vida terreal, em seu epílogo final, é sempre solitária, entre o indivíduo e Deus, conquanto, por vezes, ante a presença de alguns, sejam familiares próximos, médicos ou enfermeiros. Felizes são aqueles que transpõem o vale dessa Páscoa (passagem), sob o manto protetor do Cordeiro Santo de Deus, decorrente de uma entrega real, plena, profunda e verdadeira, de joelhos, com prantos de arrependimento e gratidão, com a boca no pó e na cinza e pleno discernimento e compreensão quanto ao tamanho do seu pecado, da sua total incapacidade de autojustificação e da consequente e inescapável eterna condenação ao inferno.
E a última Páscoa também não foi diferente. Iniciou-se apenas com os doze discípulos e Jesus no Cenáculo. Projetou – se para o Getsemani, em contexto e momentos de grande tristeza, comoção, dor e solidão, uma vez que o Cordeiro Pascal não encontrou sequer um ombro amigo para reclinar a cabeça ou receber um afago, no momento mais difícil da sua vida, nem mesmo entre os seus mais próximos discípulos. O pior é que Ele sabia de todos os horrores pelos quais iria padecer, dentre eles o mais cruel e difícil: entornar garganta abaixo o cálice da terrível ira de Deus contra o pecado. Imagine um enorme caldeirão com tudo aquilo que de mais nojento e nauseabundo possa existir – fétido, mal cheiroso, podre, cheio de tudo o que Deus odeia – e Ele, o Justo, o Santo de Israel teria de engolir, e pior, sob o abandono do seu Pai. Não foi à toa que transpirou sangue, a gemer diante do seu Aba (Pai), por três vezes, para que lhe passasse aquele cálice. Porém, sempre submisso e obediente à vontade do seu Genitor, após perceber que a Sua vontade era mesmo a de que Ele bebesse aquele cálice, saiu dali resoluto, altaneiro e corajoso rumo ao Calvário.
E malgrado tão grande sofrimento físico e emocional, tendo sido traído, abandonado por todos a quem por mais de três anos dera e manifestara o seu pessoal, direto e grande amor e poder, e ainda salvando um dos ladrões e intercedendo pelo perdão aos seus malfeitores, o único momento em que Jesus reclamou foi quando o Pai, que por ser tão puro de olhos não e, assim, não poder ver o mal, teve que o abandonar por conta de ter sido lançado sobre o Seu Cristo a maldição do pecado de todos aqueles por quem ali Ele estava a morrer. Tudo em um cenário de absoluto isolamento social e espiritual. É forte tal situação, não é?
E o que me assusta é ver, mesmo diante desse claro e evidente castigo de Deus com essa pandemia do Covid 19 – veja bem, Deus fez cessar algo que Ele muito requer e gosta, o culto coletivo –, sim, mesmo ante a esse contexto, a maioria das igrejas genuinamente evangélicas, nas mensagens que tenho estado a ouvir, não têm demonstrado o nível de quebrantamento que penso e creio que a inédita situação presente requerer. Não vejo um apelo forte, incisivo e contundente ao quebrantamento, ao arrependimento, à mudança de vida, à maior consagração à obra do Senhor, à pregação do Evangelho, à oração e ao jejum.
Quero estar enganado e, se assim o for, que Deus tenha misericórdia de mim, mas é com muito tremor e temor que estou a desse modo me expressar. As mensagens são boas, bíblicas, mas, com poucas exceções, seguem a uma ortodoxia formal, sem fervor, como se a situação continuasse normal, como a de outrora, tendo – se mudado apenas o meio utilizado à transmissão e, em alguns casos, ainda gabando-se por supervalorizar tais meios. Embora considere louvável a oportunidade de se poder utilizar a tecnologia atual e seus diversos recursos para manter a comunicação com a comunidade da fé e continuar a propagação da mensagem do Evangelho, acredito que os líderes cristão jamais deveriam apresentar tal indicativo de grande nível de satisfação com isso, pois evidencia muita falta de sensibilidade, tristeza e desconforto com a ausência do solene culto presencial coletivo, ainda mais ao se saber que isso está a ocorrer por conta da ira de Deus contra a multiplicação da iniquidade, no mundo e, sem dúvida, também e principalmente, na igreja.
A considerar a Igreja de Roma, com todas as suas heresias, abominações e idolatrias, e algumas tantas igrejas neopentecostais – em destaque, as que estão presentes nas grandes mídias televisivas com suas doutrinas triunfalistas e deterministas, antropocêntricas, de libertação, curas físicas, milagres e prosperidade, etc., com severas deturpações da verdade –, penso estar Deus super feliz em fazer fechar os seus grandes coliseus, santuários, basílicas e templos e, assim, silenciar tais vozes deturpadoras da verdade e propagadoras do mal, com suas mensagens idólatras, de autoajuda, autoglorificação e de extorsão material de seus adeptos. Quanto ao alarido pecaminoso do mundo, com o seu secularismo, existencialismo, racionalismo incrédulo e ateu, hedonismo, marxismo filosófico e cultural, consumismo inveterado, antropolatrismo, nem se cogita aqui falar, pois as enormes medidas da tolerância de Deus devem estar em seus tensores máximos.
Porém, quanto a Deus fazer cessar o ajuntamento solene, deve haver um propósito muito forte em Seu recado às igrejas genuinamente evangélicas e estas devem permanecer com seus ouvidos e olhos bem abertos para compreender tal mensagem divina e se quebrantarem, intensamente, diante do Senhor, ante a tão forte disciplina. Cabe-me, tão somente, em minha diminuta insignificância, suplicar a Deus para que as mensagens das igrejas genuinamente evangélicas tragam um bem mais forte, incisivo e contundente apelo ao quebrantamento diante de Deus, com um intenso chamamento ao arrependimento, à conversão verdadeira, ao fervor e à consagração ao Senhor e à sua obra. Já as igrejas anteriormente citadas, aconselho que se voltem à Palavra de Deus e à Mensagem da Cruz, única e exclusivamente sob a pessoa de Jesus Cristo e à Sua Salvação. Sim, Salvação da alma do inferno e da morte eterna, sem acréscimos ou omissões à Palavra Canônica de Deus, peremptoriamente afastando falsas doutrinas e nefandas práticas e pérfidas, tais como: intermediação intercessora de santos, inclusive, de Maria, purgatório, prosperidade nesse mundo, determinações a Deus, reivindicação de supostos direitos a Ele (Deus), mercadejamento da fé, demonização de tudo, vendas de indulgências, uso de amuletos, copo d’água sobre a TV, água do Jordão, rosa ungida, sal grosso, reencarnação, prática de caridades e penitências para conseguir ou auxiliar na salvação da alma, etc., pois que abomináveis são diante de Deus tais crenças e práticas idolatras e pagãs, sem nenhum respaldo, na genuína Palavra de Deus, uma vez que só o sacrifício de Jesus na Cruz do Calvário é suficiente e aceito por Deus para salvação da alma do inferno e da morte eterna, e isso pela graça, mediante a fé, e, agora sim, já salvo, para a prática de boas obras.
Penso que, guardadas as devidas proporções populacionais, a exemplo de Sodoma e Gomorra, se Deus tivesse encontrado um número proporcional a 10 naquele contexto, hoje, em quantidade de igrejas fiéis, o culto presencial solene coletivo não teria sido cessado. E se assim o é, a questão é séria, muito séria. Portanto, que Deus continue a ter muita misericórdia da igreja evangélica reformada brasileira e mundial e também das demais, despertando e ungindo as cabeças de seus líderes e membros, para que com muito mais quebrantamento, humildade, legitimidade, fidelidade, consagração, motivação verdadeira, ousadia e intrepidez possam amar, valorizar, testemunhar e pregar o Evangelho de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, estritamente sob a Genuína Palavra de Deus, sem acréscimos, reduções, inovações pagãs e/ou sincréticas, ou decorrentes de tradições; de modo a que a sua cidade, o seu estado, o Brasil e o mundo cheguem ao pleno conhecimento da Verdade e, por conseguinte, ao arrependimento e à conversão ao Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Que essa intervenção divina resulte em uma consagração maior à Sua obra, uma vez que, de minha parte, assim impactado, estou disposto a viver o resto dos meus dias a essa obra do Rei Jesus, única que vale a pena ser defendida e anunciada, de tal modo que, na próxima Páscoa, possa-se celebrar a morte vicária e a ressurreição de Cristo, também com o ajuntamento solene, porém, com muito mais genuínos e fervorosos convertidos a Ele. Aleluia!
Presbítero Saulo Santos Pereira