E todos hão de ver quão grande é o meu Deus
18 de dezembro de 2019
E o seu nome será Deus forte (Is. 9: 6).
Mais do que o título de um hino, ou um incentivo para alguém que seja totalmente sem noção do poder do nosso Deus, ou parte da letra de um louvor de adoração, a grandeza de Deus é realmente algo imensurável. A releitura do clássico filosófico-teológico “A CIDADE DE DEUS”, de Agostinho de Hipona, me fez refletir um pouco em como as pessoas mensuram o nome de Deus em poderes para satisfação pessoal ou para desejos e prazeres mundanos e finitos. A perspectiva do grande teólogo me induz a pensar que os tempos são outros, porem o homem continua, a todo custo, a se justificar em seus desejos pessoais.
Penso em como o mais importante intelectual cristão do século V d.C., sob o olhar de uma pessoa prospera, em um mundo completamente medieval, se converteu ao cristianismo. É certo que suas decepções em deuses feitos ou pensados por mãos e mentes humanas, assim como nunca satisfizeram os desejos humanos, não seria ele, um grande pensador, iludido por respostas que as pseudofilosofias cristãs o fizessem. Agostinho confrontou as maiores heresias de seu tempo, que eram o maniqueísmo, o Donatismo, o Arianismo e o Pelagianismo. Ele as combatia com conhecimento de causa e não por “ouvido de mercador”. Esse confronto o fez repensar sua vida e suas questões pessoais. Suas lutas internas são também as nossas.
Ele viveu cheio de dúvidas, angústias, incertezas, tinha ansiedade, porém, era a esperança e as alegrias verdadeiras que o motivaram a buscar, na verdade do evangelho de Jesus Cristo e nos ensinos do apóstolo Paulo, o que de verdade, realmente preencheria o seu grande vazio existencial. As suas orações e os seus anseios, guardadas as devidas proporções, é o que também procuramos, mas que ninguém dos nossos pares tem a oferecer, senão o nosso Deus. Somente um Deus grande em poder é capaz de, ao resgatar o ser, envolvê-lo em seus mistérios e lhes acrescentar a paz.
Em seu livro “Confissões” percebemos que ele é a primeira personagem da história a expor todas as nuances vistas e escondidas de seu mundo interior. Ele traduz isso com uma sinceridade que nos deixa boquiabertos. Se bem pensarmos, quando Constantino, imperador romano, colocou o cristianismo como religião oficial do estado, jamais imaginaríamos que esse pensamento de governo seria a derrocada do império romano, há quem pense por outros caminhos. Por viver nesse período, Agostinho não fala a um público qualquer, ele se dirige a Deus, pois a atração irresistível o alcança e ele se vê sem forças para dizer não.
“Dois amores erigiram duas cidades, Babilônia e Jerusalém: aquela é o amor de si até ao desprezo de Deus; esta, o amor de Deus até ao desprezo de si” (Agostinho, A Cidade de Deus, 2, L. XIV, XXVIII). Neste clássico, Agostinho nos convida a entrar em nosso interior, seu desejo é o de nos induzir a libertarmos do nosso íntimo as nossas fraquezas e paixões mundanas, seu pensamento é que os prazeres deste mundo (cidade terrena) nos separam da Cidade celestial (Eterna). E todo esse discurso parte do pressuposto da fé que, no início, abraçou seu coração. É a partir de uma maneira simples de pensar nos elementos essenciais a vida que a obra de Agostinho nos oferece a visão do grande poder e nos revela o quão grande é o nosso Deus.
Existe o entendimento, para alguns, de que “A Cidade de Deus” foi escrita para denunciar o fim da antiguidade Clássica e anunciar um novo momento que nascia com o medieval: blogspot.com/cidade-de-deus-santo-agostinho.html. Contudo vejo um homem que serve de grande exemplo para os de hoje, ou seja, para pessoas que buscam firmar sua fé não em conceitos filosóficos ou existenciais. Tal como ele, que viveu seus pecados e certamente sofreu muito com eles, é preciso que tenhamos um completo entendimento do nosso tempo e sejamos capazes de reconhecer que, em meio aos devaneios em que o convite secular tenta nos seduzir, sejamos capazes de entender que não existe, em todo o universo, reinos próprios que sejam maiores que o nosso Deus. Seu poder é grande. “Perguntei-o a terra, e ela respondeu-me: “não, não sou eu”; e todas as outras coisas da Terra disseram-me o mesmo” (Confissões, 1985, p. 182).
É o Deus forte que nos sustenta em nossos deslizes. É o Deus forte que nos conduz a andar com Ele e nos Seus caminhos. É o Deus forte que nos segura em meio aos perigos e escorregões. É o Deus forte que nos dá a capacidade de adorá-Lo e é, certamente, para todos nós que temos o entendimento de que Ele tem todo o poder, o dever de não apenas falar, mas, acima de tudo, de reconhecer para todos os homens, em todos os tempos, o quão grande é o nosso Deus.
Tudo começa com oração – Reverendo Arlei C. Gonçalves