O que é a Glória de Deus?
9 de novembro de 2019
Ao conversar com vários irmãos sobre a Glória de Deus, percebi que a maioria deles, muito embora tivessem anos que professam a fé em Cristo, tinham dificuldades em responder a pergunta título deste poste. O artigo a seguir, de autoria do reverendo Arlei Gonçalves, não esgota o tema, até porque a Glória de Deus é infinita tal como Ele o é e, portanto, impossível de delimitar. Mas expressa uma impressionante explicação e sua leitura atenta é altamente recomendável a todos aqueles que desejam se aproximar de Deus. Ótima leitura!
Diac. Rafael Lima
A Glória de Deus
Se posicionar em relação à Glória de Deus ou criar pela volição humana (Psicologia) um significado abstrato, até mesmo uma definição que seja exclusiva dessa palavra, e em tudo que ela deveria nos transmitir, por mais legal ou intencional que seja, penso ser uma tarefa muito difícil. Só de imaginar o tamanho, a infinitude de Deus, Sua Graça e soberania, por estas razões e, certamente, muito mais, torna-se, a meu ver, quase que indizível ou, no mínimo, nosso vocabulário não possui verbetes ou palavras que definam esse termo na sua essência. Penso, ainda, ser muito grande para o limite do despertar humano qualquer deliberação que a desnude por completo. Conquanto, muitos já escreveram a respeito do tema, e por mais que grandes escritores e teólogos tenham seus parâmetros para sugestionarem o que pensam e, em sua maioria, transmitam isso com legitimidade, quero eu, em meio aos desconhecidos, no que for possível, também transmitir aqui o que imagino ser a Glória de Deus. Que a sua leitura possa ser enriquecedora e agradável. E que Deus nos ajude.
Um esplendor sem paralelo humano. Uma proposta de caráter para uma vida digna dos que são chamados a servir. Um estilo próprio dos que são agraciados por Deus para o Seu louvor. Assim vemos a glória do Senhor em muitas passagens da Bíblia. No Antigo Testamento, o termo hebraico “Kãbhôdh”, que define glória, tem sua raiz em preceitos como: “probidade, distinção, honra, decência, honestidade, honradez, integridade, respeitabilidade…” e, também, “força, importância, consideração, ou o que dá peso ao seu ser” (Léxico analytical dictionary). Contudo, é importante dizer que glória = “Kãbhôdh” é o mesmo que “A glória de Deus”. Este termo indica e define a manifestação ou a presença de Deus na história. Seja na natureza ou no firmamento, tudo é a mais simples e maravilhosa representação da Glória de Deus. Ela é vista desde a saída do Egito, quando uma nuvem acompanhava os filhos de Israel em sua caminhada, assim como no Monte Sinai, onde Moisés se encantou e se amedrontou com o esplendor que tomou conta do local.
A história do A. T. nos dá conta de que a Glória de Deus seria vista no Tabernáculo de Jerusalém. Essa glória é descrita nas visões de Isaías e Ezequiel (textos citados neste). No Novo Testamento, o vocábulo “glória” acompanha a Septuaginta. Essa tradução a define como uma “Reunião dos pontos de vista que uma determinada sociedade elabora numa dada circunstância histórica, julgando ser uma ação evidente”. E para informar ao leitor, existem por aí os pensamentos dos filósofos seculares, que consideram a Glória do Senhor como “coisa somenos importante” (filosofia.wordpress.com). Mesmo que a filosofia veja isso como “uma crença sem comprovação”, seria a doxa que dá origem à nossa doxologia, a grandeza da revelação do Criador em toda sua plenitude. Seu uso comum no grego popular (Koiné) define bem e revela a presença de Deus na vida e na obra do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Isso se caracteriza na vida de Jesus e acontece desde o seu nascimento (Lc 2. 9). Em Jesus, vemos a beleza dessa manifestação se revelar num brilho diferenciado, por toda sua existência física entre os homens: quer seja nos milagres, na transfiguração ou na ressurreição – atos de Deus. Sua evolução se configura especialmente nos seus ensinos, e culminou, ou alcançou o seu clímax, na sua Ascensão, uma manifestação única e final da Glória de Jesus entre os homens.
A fé reformada possui fundamentos que são inegociáveis, e as escrituras fazem parte desses fundamentos. A Bíblia é, em sua essência e inteireza, a regra de fé e prática dos que professam a fé dos reformadores. A Confissão de Fé de Westminster (1647), (cap. 1 – VI), traz à luz uma declaração pouco conhecida no meio secular. Essa declaração é uma verdade que orienta as gerações de fiéis que se sucedem desde a gênese dos reformadores. O que os compiladores da CFW fizeram foi, a meu ver, sintetizar e sistematizar, como poucos, os preâmbulos que norteiam nossa crença, nas mais variadas questões da fé e, também, no que diz respeito ao tema: A Glória de Deus, como dizem eles, podemos sim exemplificar, como há tempos temos ouvido. Ou seja, que “Todo conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, a fé e a vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzida dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens”.
Não são poucos os posicionamentos para que possamos definir, se é que se pode definir, a Glória do Senhor. O texto da CFW fala algo que pouco é observado: “todas as coisas necessárias”. Disso falaremos mais tarde. Antes, é preciso se ater um pouco mais nas manifestações da Glória do Senhor: como ela acontece e por que ela se apresenta aos homens.
A Bíblia traz detalhes, em versículos impressionantes, de como a Glória do Senhor se manifesta. O que de todo a Bíblia ensina é que Cristo é a perfeita manifestação da Glória de Deus, e Deus nos chama para que sejamos parecidos com Jesus. Isso é fantástico, pois, se nos parecemos com Jesus e Ele é a manifestação da Glória do Pai, então, a Glória do Senhor pode ser vista na vida de cada Cristão. Quanto mais nos parecermos com Jesus, mais da Glória do Senhor fluirá de nós. Não é possível listar todas as características de Jesus, mas vejamos um pouco do seu caráter e das manifestações da Glória do Senhor. Disse-lhe Jesus: “Não falei que, se você cresse, veria a glória de Deus?” (Jo 11. 40). Pois é, ver a glória do Senhor passa por crer em Jesus Cristo e em tudo que Ele fez e ensinou. Em meio às decepções, alguns fogem, outros se afastam. Assim é com os que depositam nos homens a sua crença. Porém, se Cristo for o objeto da fé, Ele manifestará em nós a Glória do Pai. Seja a nuvem no céu, para coibir o sol e proteger a Israel das intempéries da natureza, ou o morto que sai da sepultura, em meio ao choro de Jesus, essas manifestações de poder são simples para que Deus seja sempre glorificado e, em tudo, vejamos o esplendor da sua Glória. Assim, ela se manifesta nas mais variadas circunstancias e situações:
“A ele quis Deus dar a conhecer entre os gentios a gloriosa riqueza deste mistério, que é Cristo em vocês, a esperança da glória” (Cl 1. 27). Mesmo que “toda terra esteja cheia da glória do Senhor” (Is 6. 3), alguns a desconsideram, outros não emitem juízo de valor por uma série de motivos, e os que andam afastados da graça de Deus, vivem a se perguntar, por assim ouvirem dizer, o que é a glória de Deus? Nosso Deus trata os seus de forma amorosa e particular, e mesmo que este carinho seja dolorido, aos seus, e somente aos seus, Ele manifesta as riquezas da sua glória – privilégio dos eleitos do Senhor, chamados para o louvor da Sua glória. (CFW cap. X – 1)
“Depois disso, ouvi nos céus algo semelhante à voz de uma grande multidão, que exclamava: “Aleluia! A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus” (Ap 19. 1). A glória é do Senhor, Ele a dá a quem Ele escolheu amar, e aos que pertencem a satisfação plena da sua economia, Deus se ab-roga creditar àqueles que atendem, sem medir esforços, o chamado a servir no Reino e anunciar a boa nova de salvação. Sua glória em nós é para o Seu próprio louvor.
“Ela resplandecia com a glória de Deus, e o seu brilho era como o de uma joia muito preciosa, como jaspe, clara como cristal” (Ap 21. 11). Se Moisés teve um brilho diferenciado que resplandecia como nunca alguém jamais presenciou, e causou espanto em quem viu seu rosto, qual não deve ter sido o esplendor que encantou João em suas visões apocalípticas? Desejaria muito poder alcançar a imaginação de João quando da revelação, nesse texto, e ver Cristo resplandecer a Glória do Senhor em sua condição celestial. Qualquer cadinho dessa glória em nós será uma expressão fenomenal do amor de Deus.
“O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1. 3). Em Cristo, somos chamados à adoção pelo Pai. Cristo é a completa manifestação da Glória de Deus. Que alegria saber que, ao sermos convidados a nos parecer com Jesus e, se assim agirmos, também resplandeceremos e seremos, neste mundo, o reflexo da Glória do Pai.
“Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fl 2. 9 – 11). É o imitar a Cristo, e não a condição de pedinte, ou qualquer outra, que nos dá a possibilidade de, pelo Espírito Santo, confessar o Senhor Jesus como nosso salvador, para glória de Deus e do seu perfeito amor. Seu nome está acima de todo nome. Os chamados pelo amor de Deus devem ter zelo e cuidado com seus deveres e as suas atividades no Reino, pois grande é a responsabilidade daqueles a quem Deus amou antes da fundação do mundo para refletir a imagem de Cristo.
“Levante-se, refulja! Porque chegou a sua luz, e a glória do Senhor raia sobre você” (Is 60. 1). O profeta viu essa manifestação em sua vida de maneira pontual, assim a Glória do Senhor se apresentava na antiga aliança. Nós, contudo, podemos ter a Sua presença, interna, real, vivida e constante em tudo que fizermos. Aproveite a ação do Espírito Santo em sua vida e seja um reflexo da Glória de Deus. Torne-se, dia após dia, uma pessoa digna de ser considerada parecida com Jesus. Agir assim é atender ao chamado, é ser agradecido por ser aceito por Cristo, e, certamente, é se deleitar no Senhor.
“E ali, diante de mim, estava a glória do Deus de Israel, como na visão que eu havia tido na planície” (Ez 8. 4). Neste particular, a Glória de Deus se manifesta para mostrar ao profeta a indignação do Senhor sobre os filhos da desobediência. Que a Sua misericórdia não cesse nunca diante dos nossos erros. O Deus que nos chama à retidão é Santo; Sua santidade nos constrange; é Ele que nos segura pela mão. Deus não divide a sua glória com ninguém. Tudo é por meio Dele, para Ele e para a glória Dele. (Rm 11. 36)
“… O Senhor, o nosso Deus, mostrou-nos sua glória e sua majestade, e nós ouvimos a sua voz vinda de dentro do fogo. Hoje vimos que Deus fala com o homem e que este ainda continua vivo!” (Dt 5. 24). Penso que deve ter sido esse o sentimento do profeta Isaías quando foi tocado em sua língua por uma tenaz. A palavra do Senhor da glória gruda em seu ser e, surpreendentemente, ele se vê incapaz de ser um portador das mensagens do Rei da glória. Tal como Isaías, qual de nós se sente perfeitamente capaz de ser um representante do Reino? Qual não deve ser o nosso temor em sermos escolhidos por Deus para ser morada do Espírito Santo e resplandecer a Sua glória em meio aos homens? Que Deus, em sua soberania, tenha piedade de nós.
Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus (1 Co 10. 31). Quaisquer que sejam as coisas para as quais somos chamados, se usarmos da simplicidade de Jesus para sermos um representante dos céus na terra, no que fizermos, a Glória de Deus será sempre manifestada. Nossa vida é, ao nos parecermos com Jesus, a perfeita manifestação da Glória do Pai.
“Mas a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas enchem o mar” (Hb 2. 14). Separei esse versículo, propositadamente, para que a comparação com o que falamos antes se estabeleça. Ou seja, se nos parecemos com Jesus e se nosso desejo é o de buscar a santificação, então nossa vida é a mais pura manifestação da Glória do Senhor para que Deus seja conhecido entre os homens. E se todos os cristãos perceberem esse intento, esse mundo se encherá por completo da perfeita manifestação do poder, da Glória do Senhor e do Senhor da Glória.
Um pouco de Calvino: quando ao falar do conhecimento de Deus, (INSTITUTAS, Livro I capítulo primeiro) – O HOMEM ANTE A MAJESTADE DIVINA – o teólogo reformador nos diz que: “o homem fica extremamente abalado e se queda estupefato pelo medo imediato da morte”. E ele conclui: “o homem jamais é tangido suficiente pelo senso da sua indignidade, senão depois de se comparar com a Majestade de Deus”. A sabedoria do teólogo reformador me encanta, pois que isso também define o que penso, e não somente por concordar, mas também por ver que somos insignificantes diante de tão grande perspectiva, qual seja: a Glória de Deus entre os homens.
Calvino também afirma, no mesmo capítulo, que “A verdadeira sabedoria consiste de dois elementos: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Daí a importância da revelação. Não podemos conhecer a Deus em sua essência, mas somente na medida em que ele se dá a conhecer a nós”. Esse pensamento traz diametralmente dois tipos de conhecimento de Deus, tal como declara Timothy: “como criador e como redentor. Todo ser humano é essencialmente uma criatura religiosa, tendo em si a semente da religião. Deus se revela não só através desse senso inato de si mesmo, mas também através das maravilhas da criação” (George, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994).
A conclusão do reformador Calvino me encanta mais ainda quando leio que “O fim último da piedade não é a salvação individual, mas a glória de Deus”. Nisso consiste nosso viver para servir e para que Deus seja manifesto entre os homens. Seja na vida de qualquer cristão que leva consigo o desejo de evangelizar ou em ver Cristo transformar o indivíduo pecador em um ser parecido com Jesus e refletir a sua Glória, ou, ainda, na simplicidade da vida comum dos anônimos do Reino, é realmente uma alegria sem precedente esta manifestação de soberania, visto que, em tudo, Deus será sempre glorificado.
O dicionário define caráter como “um conjunto de características que, sendo boas ou más, distinguem uma pessoa (Dicionário Online de Português). Assim penso que, se em nosso viver diário, conseguirmos com que as pessoas vejam em nós o reflexo de Jesus, certamente elas estão de olho na Glória do Senhor. Charles SPURGEON declara que “O grande intento de Deus em todas as suas obras é a manifestação de sua própria glória”. Seu pensamento é que um objetivo menor de qualquer cristão não seria digno de Sua soberania e majestade. Não temos como definir onde vai chegar a capacidade do homem. Sabemos de grande feitos e realizações que, em décadas, pretéritas e recentes, jamais imaginaríamos ser possíveis, mas mesmo diante de todo o aparato tecnológico dos nossos dias, estamos longe da qualidade de representar ou contemplar a Glória de Deus na sua inteireza. Enquanto nosso ego resistir à liberalidade da Graça e não retirar-se de querer dominar o ser, não vai existir lugar dentro do homem para que Deus seja Glorificado. Vivemos numa sociedade onde praticamente tudo nos é permissível e relativizado. Em meio ao secularismo em que vivemos, Deus permite que sejamos provados, nas mais variadas circunstâncias difíceis e nas tribulações que afetam o comportamento de todos nesta vida. Somos tidos como tolos, pequenos demais para desejar algo grande e, enquanto não reconhecermos nossa pequenez, não estaremos em condições de sermos um representante da sua grandeza ou de contemplar a Glória do Senhor.
Ao pensar em Jesus, Sua vida e ministério terreno, vislumbro o que o apóstolo Paulo imaginou ao escrever aos Filipenses (Fl 2. 1a e 5): “Se por estarmos em Cristo, nós temos alguma motivação” “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus“, nesses versos vejo que sua busca por se parecer com Jesus é um propósito de vida. O convite do apóstolo é para que tenhamos as mesmas atitudes de Jesus, e, se nestes versículos, o apóstolo nos motiva a ter essas atitudes, certamente é para que sejamos o mais parecido possível com Cristo; se assim for, o que dizer do que alcançou sua mente ao falar do fruto do Espírito?
Em quem o Apóstolo Paulo se inspirou para escrever aos Gálatas os versículos 22 e 23 do capítulo cinco? Se o seu objetivo de vida era ser um discípulo, e era com o mestre Jesus que desejava se parecer, então é a pessoa do nosso Salvador que o inspirava. Penso assim, pelo simples fato de que, em outro momento, ele disse que poderíamos imitá-lo, tal como ele é imitador de Jesus (1Co 11. 1). Seja pela santidade ou pelo Fruto do Espírito, nossa preocupação, tal como a de Paulo, deve ser uma constante, em sermos parecidos com o mestre Jesus. Assim, ele apresenta a inspiração do Espírito Santo ao direcionar essas linhas as Gálatas: “Mas o Fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei” (Gl 5. 22 – 23).
Lembram-se do “disso falaremos mais tarde”? O que seriam então “todas as coisas necessárias”, citadas na CFW? Por que e para quê a Glória de Deus deve ser vista e manifesta entre os homens? Pois é, responder a isso é imaginar que os que buscam aprender pela Palavra, sabem que: os exemplos de Jesus devem se tornar um hábito da vida diária. Qual das características do fruto listadas acima exemplifica melhor o mestre, senão todas? É a atitude demonstrada em imitar Cristo no amor, que Ele transmite ao lidar com seu próximo, que nos motiva a amar. É na alegria com que Ele se relaciona com seus discípulos, ao ensinar as coisas do Reino, que somos impulsionados a aprender para também ensinar. É na demonstração de paz, que transmite em suas palavras de esperança, que a todo custo envidamos esforços para que a paz seja uma verdade para nós e para os que nos cercam. É na paciência com que Jesus trata a dificuldade dos seus apóstolos, que somos de igual modo conduzidos a exercer a mesma paciência com as pessoas que nos cercam com seus problemas cotidianos. É na amabilidade, em ser diferente ao lidar com as mulheres e crianças, no contexto social em que Ele vivia, que nos movemos a ser cordiais com as pessoas menos assistidas da nossa sociedade contemporânea.
Essas características particulares de Jesus, em ser exemplo deste fruto, vistas acima, são de sabor adocicado, pois, certamente, os que transmitem tal atitude surpreendem os mais exaltados quando a vida se torna amarga. Contudo, é na expressão da Sua bondade com que ressuscita o filho da viúva, que me sinto desejoso de praticar o bem sem interesse e sem olhar a quem. É com a manifestação da sua fidelidade com o Seu propósito eterno, de nos resgatar das trevas, objetivo este estabelecido por Deus na eternidade, que me motiva e me leva a continuar fiel e convicto do chamado e de minha missão no Reino. É com a mansidão com que pregou o Sermão do Monte, que me alegro por ser, ou pelo menos tentar ser, um exemplo dessa mesma atitude. E, finalmente, é na capacidade de ter o domínio próprio sobre minhas boas ou más ações, que segui-Lo, me torna uma pessoa melhor. Dentre tantos exemplos, cito o episódio da sua traição, quando exorta Pedro a não agredir o soldado romano. Certamente, ele se lembrou que “todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão“. Em Deus, é que me satisfaço e me realizo, pois Cristo é o fruto mais saboroso de se provar e minha completa alegria de viver.
Seus ensinos nos mostram que devemos guardar a Palavra para não pecar e não levar outros ao erro. (Mt 26.52). Praticar os aprendizados deste fruto e manter a árvore sempre podada é o que garante o êxito da árvore em frutificar. Viver como Jesus viveu é viver com significado existencial na vida Cristã. Dadas as devidas proporções de tempo e espaço, sei que Paulo enfrentou dificuldades maiores que as pessoas do nosso tempo, porém vejo na vida desse apóstolo a perfeita manifestação da Glória de Deus. Ou seja, ele possuía o caráter de Jesus, pois se parecia com o mestre. Percebemos em sua história de vida que o Espírito Santo era quem o conduzia. Ele, tal como nós, teve suas dificuldades e também muitas dores, mas não deixava se dominar pelos desejos da carne, antes preferia sofrer pelo Evangelho.
Os que se dizem sem problemas e vivem a levar a vida por levar, “deixa a vida me levar”, terão poucas possibilidades de vislumbrarem a Glória do Senhor. Entretanto, o inverso dessa atitude é plenamente verdadeiro. Veja os que estão em meio à pobreza e sofrem com as aflições naturais: existem os que são tentados regularmente e passam por inúmeras repreensões. Estes estão mais propícios a sentirem sua insignificância, sua pequenez, a reconhecerem a sua total dependência de Deus e, consequentemente, serão pessoas mais agradecidas e mais propícias a buscarem Sua presença e Sua glória – não que esta seja a regra, mas, certamente, essa ação é muito mais factível a eles.
Sente-se guiado por uma trilha difícil nessa vida? Se assim for, decerto você terá mais facilidade de reconhecer o amor de Deus. Se a tristeza é para você algo difícil de se lidar, vai perceber que a alegria do Senhor pode muito bem te redirecionar. Se as suas questões nesta vida são uma guerra de todo dia, em Deus você encontra a paz para que seu sono seja um repouso restaurador (Sl 4. 8). Se a agitação não lhe permite tranquilidade para lidar com as pessoas, você terá de Deus a paciência suficiente para se relacionar com o mais viu dos seres humanos. A cortesia quase não se vê no convívio secular, então, agir com amabilidade será estranho às pessoas, mas de um conforto que encanta ao que serve no Reino, por desejar ser um reflexo do Seu Deus.
Ruindade é a tônica que move o egoísmo. Agir com bondade, nos torna diferentes. Se Deus é bom e somos a representação da sua Glória, a bondade deve caminhar ao nosso lado. Enquanto se der ouvidos aos pregadores que insistem em dizer que você precisa ser fugaz e tratar as pessoas de qualquer jeito para alcançar seus objetivos, a verdade revelada será posta de lado, pois ela nos declara que precisamos tratar os homens com mansidão. “Amar o próximo como a nós mesmos” é um mandamento que contraria a vontade popular. Seja diante de uma briga de trânsito, quem sabe numa partilha onde interesses pessoais são disputados sem a menor compreensão, ou mesmo uma questão qualquer difícil de resolver com alguém declaradamente inimigo (Mt 5. 44). Nessas, e em diversas outras situações, quase sempre somos tratados sem a mínima consideração. Nesta hora, o cristão que resplandece a Glória do Senhor exerce o domínio próprio e surpreende até mesmo os mais exaltados, e o amor, como reflexo da Glória de Deus, vai prevalecer.
Você tem sido provado tal como o ferro encara o fogo? Glorifique a Deus, porque assim como a presença do Espírito de Deus era uma constante na vida de Cristo e do apóstolo Paulo, você também não está e nunca esteve sozinho. Existe uma maneira inexplicavelmente maravilhosa pela qual Deus tratar com os seus: são as lutas, as dores e aflições que encontramos na caminhada desta vida que nos permite vencer, para que Deus seja glorificado e as pessoas vejam o reflexo da Sua Glória em nós, pois, tal como o apóstolo Paulo, somos pessoas que visam imitar Jesus nesta vida.
Deus nos chama a descobrir a Sua Glória em Jesus Cristo e podemos encontrar a sua completa manifestação impressa no semblante dos nossos irmãos. Você pode manifestar a Glória de Deus, por isso, em qualquer ambiente que estiver, busque transmitir, em tudo o que faz e vive, a perfeição do caráter de Jesus, e transfira a Deus todo o reconhecimento, pois é dEle toda GLÓRIA.
Tudo começa com oração: Rev. Arlei C. Gonçalves